terça-feira, 24 de novembro de 2009

Não havia palavras, nem mesmo murmúrios quase calados. Havia olhares. Olhares apenas. Desses olhares acanhados que se formam com massa fina, quase imperceptível ao paladar. Olhares que se cruzam e despertam arrepios nervosos, cheios de censura. Não devia ser permitido gostar assim. Gostar tanto de um olhar sem expressão. Um olhar calado, carecendo de atenção. Tão malvado, tão constrangedor. Há tão pouco ela o vira e fora vista. Antes, ela o via só. Seu olhar andava vago, desconsertado, cheio de pavor. Mas nutria uma esperança: a do olhar do ser amado vir de encontro ao seu, o amador. Sentiria um fervor invadir-lhe o peito e desfazer-se em mãos tremulas e cenas vãs. Estaria, então, perdida em devaneios e sonhos seus, não mais seus, agora alheios. Andaria tonta, seria o amor.

Ai, que menino bonito, do cabelo claro e liso, com um quê de raio de sol.

Uma menininha e sua flor

domingo, 15 de novembro de 2009

Conheço uma menina que possui uma flor. Sua flor, outrora rosada, agora está amarelada e envelhecida. Sua flor está suspensa em palavras soltas, rabiscadas em uma folha que cheira a morango. Sua flor marca a página trinta e sete do seu livro de anotações.

Conheço uma menina que escreve sobre todas as coisas.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Os bons ventos trouxeram de volta lembranças há muito já esquecidas. Aquelas tardes quentes em que nos banhávamos de suor, alheios ao ventilador. Conversas minuciosas, restritas a uma confiança que só cabia a nós dois. E por mais que eu diga que nem penso a respeito, que já nem quero mais... ria na minha cara, diga que me conhece bem. Você continua o mesmo, adorável como nunca deixara de ser. Talvez, se seu rosto não sustentasse mais aquela fisionomia displicente, arredia... confortavelmente confortável ao cruzar e manter os olhos fixos aos meus. Talvez, quem sabe... seria tão diferente, mesmo parecendo tão igual. Levaram-me de volta há um dia qualquer. Estávamos em 2007 e o meu cabelo era longo, longo como os dias que vieram após. Então, diga que me adora e que pensa em mim como diz pensar. Diga que nenhuma outra o faz sentir igual... e eu o queria de volta, completamente e absurdamente meu, apesar de saber que já não é e que já não deve ser assim... apesar de saber que é preciso amor para recomeçar. Entre tudo o que restou de nós, por onde anda o amor?

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Vocês não entendem.

As minhas mãos ficam geladas e logo começam a suar sempre que ele está por perto. Minhas pernas ficam bambas e os meus dedos se encolhem sempre que ele se aproxima. Sempre que ele está por perto, meu coração grita e meus pêlos se arrepiam – curiosos e atentos a cada mínimo movimento. Vocês não poderiam entender, já que nem mesmo eu entendo. É curioso como digo não conhecê-lo, mas sei diferenciar o som dos seus passos. É curioso como sei distinguir o ruído da sua voz em meio a tantas outras, e ainda assim, me julgo indiferente a sua pessoa. Não sei o que o faz sorrir, mas conheço e gosto do seu sorriso. Suas palavras não se direcionam para mim, mas me cumprimentam na passagem. Não anda em minha direção, mas ainda estou parada, esperando. E talvez seja piegas ser assim, viver assim, gostar assim... mas sou, vivo e gosto. Eu quero ter uma vida piegas, e algo me diz que você também.

sábado, 24 de outubro de 2009


Comprei sementes nessa manhã. Mamãe disse que algumas delas fazem nascer caju! Veja só! É uma pena eu não gostar de caju. Quando sentimos aquela dor no peito que parece querer nos sufocar e todos os nossos sentidos amargam na boca, pensamos logo ser a dor de amor... talvez seja só caju. Quando eu for embora, levarei as sementes que comprei para o meu planeta. Talvez, quem sabe, eu possa diminuir a aflição dos apaixonados. Levarei também novas espécies de flores e um pouco de mel para as abelhas pequeninas que vivem no meu jardim. Tão majestoso e amplo é o meu jardim! Estou indo embora, na verdade, já passa da hora de ir... ir de volta para o meu planeta. Lá não existem minhocas para devorar minhas rosas e o sol aparece à hora que eu quiser. Todas as pessoas cantam sem desafinar e as casas não possuem grades, paredes largas ou janelas fechadas. No meu planeta as passagens são mais belas, mas, cá entre nós: os dias se passam mais depressa. No planeta de vocês as coisas são maiores, mais exaltadas e mais apaixonadas. Existe um moço, um moço bonito... que prendeu minha atenção. Façamos as contas! Vinte raios de sol mais sete noites de lua cheia e ele terá 17 quando no meu planeta já terei 36! Já passa da hora de ir embora, talvez eu conheça o Havaí na viagem de volta.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009


Estávamos chegando ao fim de junho. As temperaturas eram amenas, com ventos tranqüilos e chuviscos preguiçosos a espera do crepúsculo. Pequenos arranhões dourados irritavam minha pele. Senti calor. Afastei com as mãos, forçando as pálpebras a permanecerem fechadas, aquilo que me roubava o sono.


Quantas coisas cabem num fim de tarde?

Havia uma atmosfera aveludada circundando o ambiente, e eu parecia estar dormente. Feixes de luz solar cortavam as ainda amarelas cortinas do meu quarto de hotel. Os olhos, por fim, abriram. Já passava das quatro da tarde. Castiguei-me com um banho frio, comi algumas bananas com leite e canela. Cumprimentei a tarde de primavera. O bloco de notas e a caneta de tinta preta já estavam a minha espera.

Fórmula do amor

domingo, 4 de outubro de 2009

Eu não saberia dizer a fórmula para o preparo correto de um coração, eu não saberia mesmo supor de que eram feitos os corações. Mas, de uma coisa eu estava certa: os nossos eram iguais. Todas as coisas, banais ou fundamentais, tornavam-se muito melhores quando ele estava por perto. Aquele súbito e infame amor do princípio, aquele velho amor ainda e sempre.

Nessa manhã, mostrou-me um sorriso e eu fiquei feliz. Não por eu ter sorrido após, e sim por fazê-lo sorrir como se somente isto o bastasse. A verdade é que o basta. Miro não precisa de muito para ser feliz, ele já nasceu assim. Ele é o pequeno anão contente da Branca de Neve, enquanto os outros são zangados, cheios de propósitos. É só uma mania desnecessária de grandeza, que nos últimos dias eu desaprendi a ter.

Eduardo, pequeno Edu

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O escuro estava reinando naquela noite de lua cheia que tencionava ser clara como um foco de luz. Eduardo evitava falar qualquer coisa, por mais esforço que isso lhe custasse. Todos os ouvidos pareciam estar atentos ao seu discurso infeliz. Seu amor por Júlia sempre fora muito mais bonito nas idéias do que nos atos, sempre fora mais feliz na utopia do que na realidade. Ela pertencia ao seu castelo imaginário. E, embora estivesse hoje com seus vinte anos, ainda refugiava-se na envelhecida casa da árvore construída outrora por seu pai. Eduardo ia para lá sempre que o dia teimava em decepcioná-lo e só quando ele ia embora é que saía. Não havia janela, mas havia uma árvore. A árvore cortava o chão torto e o teto destroçado que cheiravam a madeira velha e mofada. Ela era gorda, gorda de folhas verdes e algumas amarelas. Quase quinze anos passara-se desde a sua construção, mas a cumplicidade entre amador e coisa amada permanecia inalterável. A pequena casa iria guardar suas confidências e calar seu choro salgado. Estava acostumada ao menino esquisito que tinha medo de ir à escola sem Snop - seu bichinho de estimação -, ou que nunca aprendera a jogar futebol. A família sabia que a casa azul com listras brancas acima da pequena árvore próxima a piscina, resumira-se ao mundo de Edu. Era o seu mundo, não poderia ser de mais ninguém. Até que, numa tarde em que o sol não satisfeito com o céu, insistira em cortar os galhos de sua amiga e pintá-los de dourado, Edu levou a pequena Júlia Maria para conhecer o mundo de um menino de onze anos. Foi a primeira vez que a pediu em namoro.

Pecado é separar quem se gosta assim

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Meus olhos encheram-se de lágrimas ao devorarem aquelas palavras pretensiosas e cruéis. Minha vontade era não as ter lido, para que elas se sentissem coagidas a voltar envergonhadas e silenciosas para Campinas.

Meu rosto risonho se desfez em melancolia e já não havia razão para alegria. Tem dias que as coisas são mesmo assim, desordenadas. Eu teria que voltar para uma casa que não mais saberia como me abrigar. Tudo estava torto, e, mesmo com boas intenções, não poderia endireitar.


Miro estava fora. Reservei minha passagem para dali a quatro horas. Era tempo de arrumar uma pequena mala, recolher-se em um casaco lilás e comprometer-se a voltar de coração e braços abertos.

Eu não poderia promover despedidas, seria desumano. Sentei-me em um banquinho curvado e revestido por um manto azul claro. E antes que pudesse pensar em algo para escrever, as palavras já haviam ido, corriqueiras, para o papal perfumado a minha frente. Não sei como, mas desenhei a maior delícia de um beijo e um pedaço do meu coração ali, aqui:

“Muitas vezes pensei como seria se alguém como você aparecesse de repente na minha cozinha ou parado em um sinal de trânsito, no natal ou no dia do meu aniversário, mostrasse os dentes brancos - com somente um torto na região inferior - e me abraçasse pela primeira vez. Como você me chamaria? Será que eu teria um desses apelidos que mais ninguém tem? E durante as noites em que sonhos malvados viessem me atormentar, eu acordaria e não poderia me mexer, com os olhos serrados. Você iria me abraçar e dizer que tudo estava bem? Eu já estaria tão acostumada aos teus abraços. Será que eu te acharia se você não tivesse me achado? Será que você me reconheceria, mesmo sem nunca ter me visto? Eu certamente reconheceria você. É que o meu príncipe se parece bastante contigo. Na verdade, ele é a sua cara. Tem a boquinha pequena assim. Hoje, as coisas estão diferentes, até de coração já podemos trocar. E aí, me veio você. E eu prefiro sentir saudades, prefiro afundar-me em riscos e incertezas, a perder a oportunidade de viver algo mágico e sentir algum alívio nesse mundo louco. Existirá a dor, mas quem se importa? Tudo está bem, eu encontrei você... Para me hipnotizar, me paralisar. Para me fazer esquecer qualquer problema, qualquer dificuldade. Para me simplificar, envenenar, imortalizar. Distração pros meus dias difíceis. Com você, por você e como você, vale à pena. É a melhor forma que encontrei para amar."

Só mais uma de amor

sábado, 19 de setembro de 2009

Eu estava sozinha em casa. Num sábado à noite, sozinha em casa enquanto todos os meus amigos se disseminavam mundo a fora. As praias seriam aos poucos preenchidas por corpos bronzeados e cobertos por pouca roupa. Há pouco, minha mãe havia me perguntado o porquê de eu não estar presente em uma destas tertúlias. Não soube responder. Tratava-se apenas de mais um sábado tedioso que decorreria em um domingo tedioso. Nenhuma aspiração, nenhuma cobiça, apenas uma torta de limão e alguns discos.

Sabia o que viria a seguir, conhecia bem aquela experiência. Escolheria alguns filmes bobos de prateleira e me imaginaria em tais situações: uma cavalgada por um bosque pouco estreito, uma conversa ao pé do ouvido numa rua deserta e orvalhada, ou uma corrida de patins preenchida por devaneios. Nada disso iria acontecer, não naquela noite, mas eu ainda poderia sonhar.

Quando, na verdade, o que mais quero é muito pouco.

Eu queria bater de leve na porta do teu quarto e dizer ‘boa noite’. Olhar-te um pouco mais de perto, só mesmo olhar. Eu queria compartilhar contigo aqueles lençóis envelhecidos e acomodar meu corpo fino sob o mesmo espaço que o teu estaria a ocupar. Eu queria um pouco do teu cheiro no meu travesseiro fofo. Deitaríamos um de frente para o outro e eu estaria usando uma transparência, mas não nos tocaríamos. Não sou tão audaciosa. Te desejaria boa noite e fecharia os olhos. E então, eu iria querer que os tão sonhos fossem bons e que eu estivesse presente em algum deles. Eu iria querer que o teu sono fosse leve, para que pudesse me notar ao seu lado a cada despertar durante a noite. Eu queria que você percebesse que eu sei tudo aquilo que você acredita ser o único a saber. Eu queria que você me flagrasse em um dia qualquer parada a porta do teu quarto, embrulhada em um lençol amarelado e cheirando a sabão. E então, eu iria querer te dizer um ‘boa noite’ aparentemente involuntário, baixinho, quase cantado. Eu queria que ainda estivesses sonolento e que não visses quando eu depositasse um pouco de leite e alguns biscoitos de morango ao pé da tua cama. E então, eu iria querer apanhar o teu óculos que você insiste em deixar deslocado pelo chão. O colocaria sobre a mesinha que já ostentava um pequeno abajur e um livro a dias marcado na página noventa e oito. Eu queria que os meus olhos mantivessem-se covardes e permanecessem ali por um pouco mais de tempo. Mendigando por um pouco mais da tua imagem em meio àquela escuridão. Eu queria abaixar-me e soprar um pouco de ar quente em tuas bochechas, mas não me daria ao direito de encostar os meus lábios na tua pele adormecida. Eu queria te desejar boa noite por todas as noites de todos os meus dias. Eu queria que você estivesse aqui comigo, nesse sábado noturno e solitário. Eu queria que você não estivesse por aí, disseminado pelo mundo a fora. Eu queria tanto.

O começo do fim (1)

domingo, 13 de setembro de 2009


Perdoem meus erros imperdoáveis. Se antes eu não sabia o que fazia, hoje, ainda não sei. É preferível lembrar o que foi bom. Aqueles risos que ousaram ao acreditar que jamais chegariam ao fim. Aquelas tardes silenciosas em que nos uníamos pelo simples prazer de estarmos juntos. Aquele choro salgado que se tornou doce ao misturar-se com o teu sorriso. Aquela vontade de ficar perto e brindar à liberdade, à grandeza e imensidão de possibilidades por sermos jovens. Não me vire o rosto, estenda-me a tua mão. Eu quero ver todos os músculos do teu rosto se contrair quando você sorrir para mim. Não tive a intenção de te magoar, jamais passara por minha cabeça te deixar. Esse poderia ser o nosso final feliz. Todos vocês, foram tantos os que passaram por mim, e eu ainda não esqueci. Me falta esquecer o cheiro de cada cabelo, o toque de cada abraço e o calafrio de cada beijo. Se antes poderíamos ser qualquer coisa, tudo aquilo que quiséssemos, hoje, ainda é assim. Como passarinhos que cortam o horizonte e fazem seus ninhos sobre telhas e sob estrelas. Como peixinhos azuis que bastante satisfeitos com a própria vida, não se aventuram a viver fora d'água. Como aqueles balões coloridos que usei pra comemorar teu último aniversário, mas que poderiam me levar às alturas, onde somente as nuvens me fariam companhia. Perdoe-me as piadas infames, os risos estridentes, a ausência que se fez presente. Tudo aquilo que deixamos pra depois. O rosto pintado com pó de arroz, o primeiro amor que não durou para sempre. Estamos chegando ao fim, e esse poderia ser o nosso final feliz. Deixemos as sobras para depois, há tão pouco tempo para tudo o que ainda não vivi. Um novo mundo nos espera, onde não sei se o ruído do vento junto ao seu sopro a bagunçar meu cabelo, fará meu pé esquerdo levitar ao trocar contigo aquele olhar e o teu lábio morno vir de encontro ao meu. Deixemos as sobras para depois, vamos aproveitar o amor que resta a nós dois. Só enquanto somos jovens, enquanto estamos aqui. Porque metade de mim sou eu mesma, e a outra metade são vocês.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Está tudo tão quieto que chega a assustar. Minha garganta está seca. Talvez pelo copo de água que ainda me falta tomar após o despertar, ou pelas palavras que se esquivaram durante a conversa de ontem à tarde. Está tudo tão quieto. Mal posso ouvir os sons ruidosos que vêm da rua deserta. As flores estão cantando a primavera, enquanto o inverno canta e encanta e entrelaça-se, cruel, em meu coração. Está tudo tão quieto. As nuvens estão ausentes, descrentes, quase se diluindo a um mero resquício de fumaça. Sem encanto, contentamento, uma fumaça qualquer - como as que saem das fábricas ou dos canos sujos de carros novos. Está tudo tão quieto. Minha memória está vaga, falha, já não diferencia o que aconteceu do que está por vir. Hoje, assumi em público a minha paixão. As luzes que ontem se acenderam na orla, não se acenderam por nós dois. Não foi por nós dois que aquela música ficou para depois. O mundo não precisa de você para girar nem as flores para desabrochar. O sol não precisa de você para brilhar nem o trânsito para infernizar. Todas as coisas estão ai, cada uma em seu devido lugar. A folha da bananeira não precisa de você, a sombra da macieira, também não. Um prédio de vinte e três andares, um maço de cigarros ou aquele livro de capa dura, não precisam de você. Os meus cabelos e os meus olhos, e a minha boca e a minha pele, o meu seio e o meu colo, o meu relógio e o meu café, e até a minha cama não precisa de você. Hoje, assumi em público a minha paixão. Está tudo tão quieto. E eu aqui, tentando me convencer de que não preciso de você.

Querido Matheus,

domingo, 6 de setembro de 2009

Moro em uma casa engraçada. A grade da janela do meu quarto está um pouco enferrujada. Na sacada, algumas folhas meio amareladas. Ouço ruídos de sorrisos vindo da escada. Meu coração está quieto, assustado. Os passos são leves, como brisas de uma manhã com o rosto exposto ao sol. Posso até sentir o teu calcanhar pulsar de encontro ao próximo andar. Tem uma flor murcha presa no meu cabelo cor de marfim. O relógio de pulso parece estar parado, esqueci de organizar as roupas amontoadas no armário.

Poderia compor uma sinfonia, criar a mais bela melodia. Poderia te ensinar a dançar, deixar o fresco ar nos guiar. Poderia até te desenhar, ressaltando os traços das tuas bochechas e os fios das tuas sobrancelhas. Poderia ser borboleta, você, meu passarinho.

Ah passarinho, voa por aqui. Sobe de leve pela escada da minha casa envelhecida, sem fazer estrondo. Como num sonho pouco comum, vem me despertar acariciando minha pele.

Querido Matheus,

sábado, 5 de setembro de 2009

Hoje eu dormi um pouco mais que em dias comuns. Não tenho planos, não há roupa alguma separada para mais tarde eu usar. Meu cabelo está arrumado, mas não estou maquiada. Você poderia vir para cá, poderíamos conversar. Não sei se você sabe, mas as coisas não vão bem. Estou tão confusa, precisando de alguém. Você não quer ser esse alguém, não é mesmo? Talvez eu passe no mercado e compre sementes de girassol, caso contrário, deito-me em uma rede voltada para o sol e perco-me pensando no acaso. No acaso, no nosso caso que ainda está pra acontecer. Vê se passa por aqui esses dias, to com vontade de te ver.

Querido Matheus,

domingo, 30 de agosto de 2009

Hoje eu comprei uma caneta colorida e perfumada. Qualquer coisa que eu possa fazer para deixar esta carta mais bonita, eu farei. Não me ache estranha, por favor, e desconsidere meu nervosismo, só estou meio acanhada. Bem, não sei ao certo o dia em que o vi pela primeira vez, mas lembro-me de o ter achado um menino muito bonito. Talvez seja a sua forma de andar. Por favor, isso em mim, não estranhe também. Algumas gostam de mãos e ombros largos, eu gosto mesmo é da leveza com que movimenta as pernas e sua delicadeza ao quebrar o quadril. Mais que lindo o seu andar, é tão... tão... tão sensual. Nem sei dizer, mas sei que foi o que primeiro reparei em você. Logo após, me veio o teu tom de voz. Tua fala, além de grave, é rouca também. Mas quando ri, afina, de leve, quase sem se sentir. Não me pergunte como eu já a ouvi, pois isso, também não saberei dizer. Talvez em uma das inúmeras vezes em que sonhei com você. Só continue a sorrir, mesmo sem saber que o teu sorriso torto e de dente amarelado, eu roubo para mim. Eu não estou apaixonada por você, só o acho um menino bonito. Como naquela tarde em que escorou-se na cadeira de plástico e apoiou os pés descalços em uma outra a sua frente. A caneta estava mastigada na tampa e encaixava-se perfeitamente entre sua cabeça e a orelha compridinha. Sua testa estava franzida e a página estava aberta em algo de física. Estava bonito, tão bonito. Continue olhando para mim, se quiser. Caso não queira, tudo bem. Só faça de conta que me entende enquanto faço de conta que te conheço muito bem.

Lembro que sempre sonhei viver de amor e palavras!

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Tenho medo de gente comum. Não, não sou excêntrica, exótica ou afrodisíaca. Não, não vivo aventuras emocionantes e eletrizantes como artistas de cinema. Não, não tenho jornadas incomuns e admiradores espalhados por todos os lugares. Não, não sou motivo de orgulho ou vergonha para ninguém. Não, não inspiro romances, músicas ou poesias. Não, não há hoje nenhum apaixonado por mim. Não, não tenho um dom solene ou sou capaz de fazer algo que ninguém jamais ousou fazer. Não, não possuo fortuna financeira. No entanto, não sou comum. Vivo cercada por tantas tristezas, que me ponho muitas vezes a padecer e nada fazer para mudar tal situação. Isso não é motivo para grandes preocupações, tantos por ai carregam mundos nas costas e eu aqui, a lamentar-me porque vivo sem fortes emoções. Sempre fui tão mimada, sou egoísta e bastante dona de mim. Estou acostumada a ter tudo nas mãos e a jamais ser contrariada. Temperamento difícil, alma audaciosa e insolente. Mas, não faço por mal. É que o tédio anda tomando conta de mim e mudando constantemente o tom do meu céu. Acho feio tudo o que me aparece e caio em lágrimas por qualquer bobagem. Vivo as emoções alheias por falta de minhas próprias. Recorro a livros, filmes e falatórios intermináveis com pessoas mais interessantes que eu. Pouco tempo depois, percebo que nem são tão interessantes assim e logo me cansam. Daí, já estou aborrecida e saio rogando pragas para qualquer um que ousar cruzar meu caminho. Dispenso amabilidades e peço perdão aos meus por viver assim, em prantos. Olha só, eu não sou comum e não necessariamente gosto disso. Talvez, ser comum seja bem mais fácil. Mas, eu não sou. Tento abolir da minha vida as expectativas. Coisa mais chata essa, acreditar e esperar coisas que nem sempre acontecem e te fazem chatear. Já que eu não tenho um amor a quem dedicar versos e músicas, e poesias e palavras jogadas ao vento; vou assistir ao amor de alguém e planejar fazer o mesmo daqui um tanto de tempo. Já que eu não estou participando de nenhum grande acontecimento e não estou prendendo a atenção de ninguém; vou ler algo do tipo e depois escrever, imaginando-me em seu lugar. Se a minha vida não estivesse e permanecesse nessa montanha russa de emoções, não estaria escrevendo isto aqui, e tão pouco algum interessado iria ler e achar tudo muito lindo.

Faça de conta que temos um segredo

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Sabe, eu quero viver. Eu quero ver verdade em coisas diferentes, eu quero ser diferente. Já me sinto assim. Eu quero que as pessoas reparem em mim, quero que gostem de cada uma das descobertas a meu respeito. Quero agradar, saber que sou aceita. Quero sentir-me aceita. Mas, ao mesmo tempo, eu não quero me prender a isso. Não quero me prender a um só alguém ou a um só tipo de gente. Quero conhecer de tudo, provar de tudo, viver um pouco de tudo. E poder registrar tudo o quer for vivido e experimentado, para daqui a alguns anos eu tentar entender o que se passava em minha cabeça. A vida não se torna ruim só porque tivemos um dia ruim. Dias ruins acontecem sempre, com tanta freqüência que chegam a nos enlouquecer. Gostaria de mostrar-lhes o que há dentro do meu coração, mas não posso, não iriam entender. Fujo de vazios sem esperanças. Fujo de gente careta cheia de ideologias e linhas prontas para seguir. Fujo da preguiça de novidades, das mentiras ou falsas verdades. Tenho tantas histórias encenadas e criadas dentro dessa cabeça, do meu consciente, da minha ânsia de vivê-las. Eu sou especial, deve ser. Queria encontrar alguém especial, como eu. E então, saberíamos que somos as pessoas mais bonitas e especiais de todo o mundo, e esse seria nosso segredinho.

Um conto de amor

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Ela estava usando um tomara que caia vermelho justo e sedutor. Ele chegou na hora exata e a levou para um restaurante reservado e acolhedor. Pediram o melhor vinho, e após algumas muitas taças, iniciaram um diálogo:

- Por que você está fazendo tudo isto? Quero dizer, não faz o menor sentido.

- Faz para mim.

- Faça-me entender.

- Desde que a vi no desfile, não pude mais esquecê-la. É constrangedor e confuso, quer que eu continue?

- Por favor.

- Analisei cada um de seus passos, observei seus movimentos, vi por quem estava acompanhada. Quis descobrir tudo o que poderia fazer e dizer para lhe agradar. Eu quis ter você.

- E então, subitamente, viu-se perdido de encantos por mim? É incompreensível, você não é um cara comum.

- Você muito menos. Não pense que eu senti apenas atração pelo seu rosto ou corpo. Deixei-me levar pela forma como andas, como bebes, como cruza as pernas ao sentar-se, como movimenta as mãos, como fica levemente corada ao sentir-se envergonhada, como é generosa ao sorrir um sorrisinho atencioso para quem nem mesmo conhece.

- E então?

- E então que eu estou apaixonado por você. E eu gostaria muito de saber que sentes o mesmo. Mas caso não o sinta, pago a conta e vou para bem longe de ti. Me diga, o que sentes?

- O que me pedes não é fácil. Só nos conhecemos a uma semana.

- Foi o suficiente para mim, e para você? Só me diga se meu sorriso lhe deixa encabulada, como o seu me deixa. Só me diga se tem vontade de perder-se em meu abraço, como eu tenho de perder-me no seu.

- O que quer que eu diga, afinal? Sou uma garota de 18 anos que veio fazer compras em New York e conheceu um modelo lindo e galanteador. Eu não pretendia viver uma história de amor, você só me pareceu um bom motivo para fugir do tédio e continuar a viagem sem meus pais. Eu não estava disposta a viver nada disso...

- Basta. Não é necessário que diga mais nada.

- Espere, não vá. É verdade, eu não estava. Mas agora, agora eu estou.

- Então venha dançar comigo.

- As coisas são tão simples para você, não é?

- Errado. As coisas tornam-se simples quando eu estou com você.

- Você irá se arrepender de se envolver comigo. Não sou fácil, não, não sou. Olha, eu tenho até muitos defeitos...

A beija.

- Você é linda e dança muito bem.

12/06/1992 - 12/06/2009

Comemorar aniversário é algo realmente muito bom. Você se torna o centro de todas as atenções e aqueles que verdadeiramente importam-se contigo, te enchem de mimos e agrados. Um casal que se curte, pode sim, almejar aumentar a família. Foi assim, que há exatos 17 anos, minha mãe presenteou ao meu pai com o melhor de todos os presentes para o tal grande dia dos namorados. Sim, eu nasci no dia dos namorados. Desde pequena estava acostumada a ouvir: “quando for uma mocinha irá receber dois presentes.” A verdade é que eu não entendia muito bem de onde iriam vir tais dois presentes, mas gostava disso. Com o passar do tempo e o chegar da maturidade, percebi e não gostei do que havia percebido, que tal dia não era somente meu, não era dedicado somente a mim; outros tantos, tantos que eu nem mesmo sabia quem poderiam ser, dedicavam o dia – que por direito seria meu –, a outras pessoas. Se antes já era algo bastante comum, no dia 12 de junho, os namorados confundem-se com o restante das pessoas e já não conseguimos diferenciar quem está ou não só. São freqüentes e presentes em todos os lugares e passam a representar quase um patrimônio público. Afinal, a praça não seria tão bela sem um casal a trocar carinhos no banco de verniz. Tão pouco, seria tão aconchegando ouvir canções românticas da década de 70 em um boteco qualquer. As ruas perdem um pouco da iluminação e dão espaço a luz de velas. Corações de todas as formas, cores e tamanhos preenchem cada espaço vago das cidades. Pessoas de várias idades sorriem um sorrisinho bobo e desfilam com embrulhos coloridos nas mãos. Um pouco de tudo perde mais da importância e problemas banais se afogam em momentos de extrema e de única troca de carícias. É como se, mais que um dia para casais trocarem eternas e muitas vezes falsas promessas, mais que um dia para aumentar os lucros de um restaurante ou de uma perfumaria, mais que um dia para arrumar-se e sair de casa. É um dia para promover o amor. Sim, eu nasci no dia do amor. Quem sabe, seja essa a razão para eu ser assim, tão boba e apaixonada por todos(as) que conheço, a cada um que me vier distribuindo agrados ou menos que isso. Eu não estou dividindo meu dia com outras pessoas que nem mesmo conheço, mas sim, estão tantos outros que eu nem mesmo conheço, comemorando um dia especial comigo.

Conheci um anjo

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Ainda pequenina, aprendi que todos temos um anjo da guarda. Ensinaram-me que são criaturas graciosas que transbordam bondade e encanto. Disseram-me que possuem o dom de pacificar um ambiente e promover o amor. Imaginei que em um lindo dia de verão me entrelaçaria em suas asas de plumas brancas e levaria-me para conhecer o céu. Procurei por meu anjo em todos os lugares; tentei decifrar cada sorriso, cada olhar. Cada forma de mover as mãos, delicadezas ao falar e andar. Nunca os vi, nenhum deles. Ou melhor, não os via. Senti o aroma da mocidade, a sutil diferença entre ser uma menina e ser uma mocinha. Apaixonei-me pela primeira vez, sofri pela dependência daquela companhia, alavanquei sonhos que facilmente chegaram ao fim. Apaixonei-me novamente, e outras tantas vezes. Por sorvete de menta com chocolate, pelo último espaço vago em um ônibus lotado, pelos livros de contos mofados da biblioteca. O sorvete, dividi com um cachorrinho de rua que com o olhar sorria para mim. À pequena senhora suada e mal vestida que com carinho segurou meus livros na locomoção lotada, retribui com toda amabilidade que possuo. O livro, escrito com tanto afinco por um bobo sonhador como eu, robou-me horas e horas de sono, mas provocou-me o dobro dos sonhos. Percebi, então, que em cada um de meus momentos, encontrava-se um pouco de graça e afeto. Somei os beijos aos abraços, os aconchegos aos afagos, as noites aos dias, as tristezas as alegrias. Entendi, enfim, que grande sorte possuía. Não satisfeito em ser apenas um, dedicou uma virtude a cada um de meus amores. Encontrei em cada nova possibilidade de sorrir, outro pedacinho de mim. Conheci meu anjo em cada um de meus amigos.
Era fim de tarde, o sol começa seu show ao se despedir. Um pouco distante, uma pequena sorria para mim. Um riso poético, acolhedor, acompanhado pelo canto do colibri. Naquele momento, soube que havia um anjo ali.

♥♥..

Ah, queria tanto gostar de você. Foi tão simpático, atencioso; cuidadoso a cada palavra, cada sorriso. Sou tão insuficiente para ti, tão acostumada a voltar minha atenção para bonequinhos de plástico que me passou despercebido. Me conheceu antes mesmo da oportunidade de conhecê-lo. Ai que riso gostoso, bonito de se ver e sentir. Me pareceu tão diferente e ao mesmo tempo tão presente. Aquela lembrança impregnou em mim, tomei por decidido me aproximar de você. Caso não fosses buscar por mim, eu iria buscar por ti. No entanto, não foi preciso. Você me procurou, provocou, conquistou. E agora, queria tanto gostar de você. Queria poder acreditar que você se interessa por mim, que você é tudo isso que eu espero que seja. Queria ter a certeza que não é utopia, que sou a única que você deseja. Queria saber suas preferências, suas fraquezas, suas maneiras. Queria me identificar contigo, queria que sentisse o mesmo. Queria que fosse esse alguém que espero a tanto tempo. Eu não o conheço, não sei se é bom ou ruim. Se vou me apaixonar por você e você por mim. Não sei se vamos nos falar amanhã e se vou gostar do que tens a me dizer. Não sei o que pensas do mundo, da vida, do amor, de mim com você. Não sei se gostas de café, como eu, ou de escrever. Talvez prefira praia à campo, suco à refrigerante, sol à chuva, pêssego à uva, ser criança à ser gente grande. Nem mesmo sei se prefere açaí com ou sem banana. Não sei se tens irmãos ou se não os têm. Não sei se gosta de Tv, se gosta de ler. Não sei quantos anos tem. Nem mesmo sei se já amou alguém. Não sei me achas bonita, magra ou gorda, pobre ou rica. Se estás pensando em mim agora, não sei. Não sei se é da esquerda ou direita, capitalista ou comunista. Não sei quem são seus exemplos, quem você admira. Não sei se tem avós, primos e primas. Não sei aonde mora, qual é seu número, seu signo. Pode ser gêmeos, como eu, ou libra. Talvez prefira teatro à cinema, loiras à morenas, unhas compridas à pequenas. Talvez seja canhoto, medroso. Talvez seja virgem, talvez não. Talvez seja preguiçoso, amoroso, mentiroso. Quem sabe queira ir embora ou planeje ficar. Talvez, não sei, seja capaz de me fazer voar. Você pode até saber inglês, francês, chinês, que eu nem sei. Talvez você tenha bons amigos, talvez não. Não sei aonde costuma ir ou o que pretende fazer. Sei tão pouco sobre você. Mas sei que é divertido, carinhoso e orgulhoso. Sei que gosto de conversar e me imaginar contigo. Não sei se fecha a torneira ao escovar os dentes, como eu. Se ama os animais, como eu. Se escuta "Nando Reis", como eu. Não sei se sabes dançar, cantar ou se seus sonhos se assemelham aos meus. Mas sei, mesmo sem saber o porquê, que quero gostar de você.

escrito em 03/05/09..

Meu presente, íntimo e pessoal

Diferente dos demais, nem pior nem melhor, só diferente. Cansada de tanta babaquice, de gente sem conteúdo e com pouco amor pra dar. Cheia de idéias malucas sob a cabeleira, cheia de vontade de mudar o mundo com as mesmas. Bonita, apenas. Nada de a mais bonita, charmosa, sexy ou atraente; só bonita. Egoísta, quer todo o amor de mundo para si e ainda crê que amor algum pode ser maior ou mais bonito que o seu. Apaixonada, apaixonada por ela, por ele, por quem nem mesmo conhece. Ela é mesmo assim, continua a sofrer desesperadamente, mas ama. Te conhece, logo te ama. Não lhe dê qualquer abraço ou sorriso, não queira correr esse risco. Sua TPM é louca e lhe deixa mais louca do que já é. Olha, é louca mesmo. Gosta de coisas que não agradam a mais ninguém, vê a vida com outros olhos. Em sua mente, várias caras e bocas. Ontem foi Maria, talvez amanhã seja Fernanda; hoje, por ser um dia especial, é Gabriela. Inconformada, seja com o preço do ônibus ou com a quantidade de maltratos a animais. Justiceira, acha que pode resolver os problemas de todos, mas nem mesmo consegue uma boa nota no teste de matemática. Não anda só, só anda em boa companhia. Tem medo da solidão, da rejeição, do não. Tem amigos amados, pais amados, pessoas abençoadas ao seu lado. Acredita que nem sempre é divertido manter os pingos nos "i's". Intensa, impulsiva, inconstante. Dúvidas entre o bem e o mal, o certo e o errado, a crença e a descrença. É a favor do amor, amor, amor. Da paz alcançada sem o auxílio de um cigarro de maconha. Da mão estendida, do "bom dia" carinhoso e sincero. O cheiro que só recorda o que é bom: uma comida, uma música, um carinho. Nada de preto no branco; prefere vermelho, rosa, verde, amarelo e azul. Acredita na força do pensamento, no sentimento. Pra quê discrição, se é muito melhor chamar atenção? Todos possuem essências e mistérios capazes de cativar alguém. Livro com encanto, novela com romance, fotos com sorrisos, roupas com fitas e rendas, uma folha branca com um conto romântico acompanhado por um coração rabiscado em um espaço qualquer...

Carta de aniversário pra Bella :)

Te pintei de anjo pra melhor passar.

Quando ainda bem menina, resolveu me acompanhar. Me sentia tão sozinha, uma criança sem amigas, sem uma mão para segurar. Apesar da pouca idade, conhecia muito bem o que, até então, eu não entendia. Mostrou-me que não era bem assim, que havia sintonia. Tornou-se minha melhor companhia. Os laços criaram um nó de união. Muito mais que amizade, respeito e gratidão. Me aconchegou e confortou em toda ocasião, a cada nova queda ou decepção. Amei, amei mais a cada dia, era de longe minha melhor companhia. Esperta como és, decidiu externar todo o amor que possuía, tornando-se tão bela quanto o nome sugeria. Nunca vi outra igual, sua beleza e bondade corrompem o mal. És delicada como uma flor, doce como mel. Cura qualquer dor, está destinada aos céus. Não sei se para os outros é preciosa como para mim, mas creio que sim, pois soube que um anjo a muitos pode servir. Tenho medo de perdê-la, medo de que vá para longe. Sentiria saudade de seus versos, seus abraços, sua boa companhia. Pensei em torná-la uma estrela, dessas que descem do céu em dias de chuva, dando brilho as ruas. No entanto, percebi que ao céu teria que voltar, para a outras pessoas, além de mim, iluminar. Bastaria olhar para cima e te procurar, mas me faltaria paciência esperando a noite chegar. Talvez te transformasse em sol, mas também não poderia. Como ficaria a te contemplar sem machucar a vista? Os teus raios iriam me cegar, tornando-me incapaz de te admirar. Portanto, em nada te transformaria; nada além do que és, seria. Para sempre anjo, condenada estaria. Em um dia qualquer, longe de observação, cortei suas asas, te pus no chão. Para sempre anjo, ainda seria, mas impedida de alçar vôo, estaria também condenada a minha eterna melhor companhia.

Sorte a minha

sábado, 6 de junho de 2009

Que bom te ter por perto. Que bom poder contar com você, sorrir com você, brincar de te querer e de te ter pra sempre. Com você fica tudo mais que bem, mais que certo. Compartilhando minhas dores e alegrias, meus momentos de criança e mocinha. Que bom poder planejar um fim de semana ou o resto de nossas vidas. As tardes em que estive contigo, somando risos e gritos de empolgação, empenhadas em prender atenção. Que bom poder te contar sobre os meus dias, meus medos, minhas manias. Te contar que viciei em café, que corro a vida sonhando e fazendo poesia. Que bom te falar sobre o que conversei, com quem andei, sobre os tombos que levei e quantas vezes minha cabeça levantei. Que bom saber que ciúme é uma forma torta de amar, e que eu amo amar você. Sei bem que morre aos poucos aqueles que não dão resposta a uma pergunta, mesmo que a saiba. Que o verde combina com o amarelo, mas que também fica bem com o azul. Que o teu sorriso ilumina os dias... Um a um. Que eu acordo pouco sabendo, e durmo conhecendo menos ainda. Que assim como o verão, o inverno tem suas regalias. O que seria do bom se não houvesse o ruim? E o que seria de você sem mim? O preto sem o branco, a praça sem um banco, a sorte sem o azar, a riqueza sem a avareza, a fé sem a descrença ou a cura sem a doença? Que bom viver intensamente como se não houvesse amanhã. Ouvindo o canto dos pássaros com o ronco dos carros em uma vidinha corrida de uma cidade qualquer. Que bom que o teu caminho cruzou com o meu, que eu recebi carinho teu, que assim tudo se fez mais completo, mais poético. Que bom escrever sobre o mais puro dos sentimentos, sem receio, desalento, medo que se chegue ao fim. Que bom ter a certeza que mesmo estando longe, estará aqui. Que bom que você vive comigo, meu bom amigo.

Te quis

sábado, 30 de maio de 2009

Quero amor, só quero amar. É que meu coração vagabundo anda com vontade de se dar. Dar-se, sabe-se lá para quem, sabe-se lá porquê. Só se sabe que quer viver. Um chamego desses que se começa por hoje e não se acaba por amanhã. Que sente aroma de querer misturado com hortelã. Tem-se vontade de gritar que a vida não deve ser assim, cheia de controvérsias e erros sem fim. Minha língua anda a dizer por aí que achas um absurdo ver tua boca próxima a minha e não a invadir. Teu corpo está a zombar de mim, jogas tanto charme para o meu, o convida a se perder nos fios teus. Cansei de ser só amigo teu, de ver que teus carinhos não são meus. Que queres que faça? Queres casa, comida, roupa lavada? Não venha me pedir muito, bem. Não sei se tenho o que precisas, mas tudo o que almejo, tu já tens. Não te quis de um jeito qualquer, não somente como um homem quer uma mulher. Te quis como à água que mata minha sede, o calor que aquece minha rede. Como o quadril perfeito que se encaixa ao meu, o perfume que embala os sonhos agora teus. Te quis e ainda quero, por isso, te espero. E não me canso de esperar, pois meu coração vagabundo há de se alegrar quando ver-te chegar.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Pertenço a uma família mediana com renda mediana. Tendo por hábito juntar meu rico dinheirinho com o intuito de satisfazer meus gastos fúteis e superficiais. Não sou o tipo de pessoa que mesquinha os vinte centavos de troco no ônibus, mesmo achando injusto não os receber com o argumento de o trocador não os possuir. “Terá que esperar um pouco, não os tenho agora.” Está bem certo que eu não o esperaria muito mais quando minha parada fosse solicitada. Assim eu fiz. Não guardei qualquer rancor do moço que me atendera, prefiro acreditar que ele teria me dado - o que me era de direito -, se mais alguém tivesse entrado no ônibus. Talvez sua consciência devesse pesar ao saber que estava tornando-se um profissional menos responsável por isso, bem, a minha pesaria. Convenhamos, minha mente não é tão cruel a ponto de desejar extorquir meus queridos vinte centavos de um provável pai de família que se desgasta dia após dia em um cubículo desconfortável e mal cheiroso. Por fim, creio que não me torno alguém mais rico ou mais pobre por conta de míseros vinte centavos. A outros tantos, é provável que valha bem mais. Não irei esquecer-me de anotar o acontecido em meu caderninho cor-de-rosa com inúmeras de minhas boas ações. Pretendo apresentá-lo aos céus quando for o momento certo.

Sonhei

sábado, 16 de maio de 2009

Não queria ir dormir, ainda estava cedo, havia muito mais de interessante a se fazer. Não queria acordar, ainda estava cedo, precisava descansar.


No ônibus, uma garota usando a farda de uma escola pública me observava com um ar de dúvida e condenação. Devia estar supondo e imaginando como seria minha vida, a de uma garota com a blusa um pouco mais limpa que a sua. Gostaria de poder explicá-la que não é bem assim, que não sou desprovida de dificuldades, como vi pelo seu olhar, que ela supunha. No mundo em que ela crê que vivo, uma garotinha não poderia voltar para casa de ônibus. Então, após minha resumida explicação, talvez ela me sorrisse um sorrisinho descrente e azedo, e se oferecesse para segurar meus livros. Eu poderia iniciar um diálogo, não somente para o tempo passar mais depressa, como para limpar a imagem ruim que ela tinha de mim. Eu poderia dizer-lhe que na noite anterior escutei diversas vezes “All My Loving”, imaginando-me com vestidinho de princesa em um baile acompanhada pelo mais belo par. E que adoro café com leite em pó e leite líquido com cereal de chocolate, como nos seriados da TV. E então, eu poderia dizer-lhe que adoraria acordar como acordo em todos os domingos. Ao contrário da maioria, eu adoro os domingos. É dia de Pânico, igreja e almoço comprado. Talvez ela também gostasse dos domingos e, então, nós teríamos algo em comum. E aí eu teria intimidade para confessar-lhe que não tenho amigo algum que more longe, mas que, ainda assim, sinto falta de muitos deles. Nesse momento, alguém iria descer do ônibus e eu me sentaria ao seu lado. Talvez eu comentasse que sinto saudade dos meus longos cabelos e tentasse mostrar-lhe com gestos o tamanho que ele possuía. Ela poderia dar risada e então me contaria um pouco mais sobre sua vida. Eu poderia dizer-lhe que ando assustada, com medo de me apaixonar por alguém que não se apaixonaria por mim. E então, eu lhe diria que me imagino deitada sob um pé de macieira, como aquelas que fazem sombra e sempre desenhamos ao lado de uma casinha quando somos pequenas. Ela poderia até me achar louca, mas duvido que o dissesse. Talvez eu acompanhasse uma canção que acabara de tocar na rádio e ela gostasse tanto da voz quanto eu. Talvez aí, soubéssemos de algo a mais em comum. Eu iria dizer-lhe, se ainda me restasse algum tempo, que gostava do tom de sua pele, bastante branca. Talvez gélida, mas não pude tocá-la para saber. Lembraria, então, de perguntar seu nome e gravá-lo em minha memória, como o de minha nova amiga. Talvez aí, ela até gostasse de mim. Mas eu não o fiz. Não lhe falei sobre a música do dia anterior nem do medo de viver um amor platônico. Iria descer na próxima parada e ela, certamente, continuaria me achando uma garotinha de contos de fadas.

Né? :)

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Acordei ainda bem cedo, com um certo esforço, é verdade. O cabelo, assim como o material escolar, foi arrumado de forma desordenada e despreocupada. O sono, a preguiça e o friozinho matinal foram facilmente esquecidos ao primeiro abraço caloroso de uma amiga. Algumas aulas tediosas, risadas incontáveis. Um ônibus lotado, cheio de personagens característicos, peculiares em cada detalhe, com uma história sofrida ou feliz narrada em seus olhares. O tom alaranjado do meu quarto embalando os sonhos de uma tarde bem dormida. O lençol acaricia minha pele, anuncia o leve despertar. Café com leite, alguns afazeres, engano-me crendo que o dia se passou bem. A conversa flui naturalmente, como uma flor a desabrochar sem pressa alguma. Não nego meu desejo de agradar, no entanto, pouco preciso me esforçar. E ele certamente sorri um sorriso provocado por algo que intencionalmente o disse para fazê-lo sorrir. E agora sim, o dia correu bem para mim. Uma nova ocupação, talvez um livro, ou recorro a televisão. Está presente a cada página, a cada interpretação. Talvez te encontre até dentro de meus sonhos, talvez não. Mesmo sem saber, decido mais cedo me recolher.

E o teu amor, quanto vale?

domingo, 10 de maio de 2009


Já tentou avaliar seu próprio amor? Dedico um pouco a meus amigos, familiares e agregados. Um outro tanto a meus afazeres, gostos e prazeres. Ao namorado, dedica-se o amor do tamanho da paixão. Aos melhores amigos, dedica-se o amor do tamanho ao de um irmão. A escrita, o amor da satisfação. Mas há alguém que não se encaixa em nenhuma descrição. Há um alguém que te esperou e te amou antes mesmo de conhecê-lo. Há um alguém que te cuidou e quis bem desde o começo. Há um alguém que acompanhou teu crescimento, teus erros e acertos. Há um alguém que por ti esquece de si mesmo. Há um alguém que acordou, limpou, ajudou, sem arrependimentos. Há um alguém que te viu andar, cair e chorar. Há um alguém que ainda assim esteve lá, te incentivando a continuar. Há um alguém que te auxiliou com o BABÁ, que sofreu ao te deixar com a babá. Há um alguém que te ensinou boa parte do que sabes e que formulou uma parte do teu caráter. Há um alguém que te ouve e te entende mesmo quando não deve. Há um alguém que por ti engole muito sapo. Há um alguém que te conhece melhor do que você próprio, e do que a si próprio. Há um alguém que faz comida, passa roupa, dá beijo, só pra te agradar. Há um alguém que briga, que chora, mas pelo bem. Há um alguém que não ama de amar assim, mais ninguém. Há um alguém que coloca feitiço em quem te querer mal. Há alguém que abraça o melhor dos abraços. Há um alguém que por ti desce do salto. Há um algum que de valor é incalculável. Há um alguém que mesmo de mal, é do bem. Há um alguém que tu procuras sempre que te faltas afeto e mimo. Há um alguém que sempre te socorre nas horas ruins. Há um alguém que não se encontra fácil assim. Há um alguém como poucos, que o amor vale mais que ouro. Há um alguém que não se deixa abalar, mas se te abalam, abala-se demais. Há um alguém que chamam mãe, anjo, amiga. Há um alguém que prefiro chamar amor. Pois insatisfeita com as definições que encontrei desse sentimento por aí, decidi dar a ele minha própria feição. Se pudesses personificá-lo, terias o teu rosto. És o que há de melhor em mim, e o que há de melhor em mim, devo a ti. Amor imenso, só se é recompensado, se em dobro destinado.

A história de mais um cara comum

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Verão, amor bobo, inconsequente. Ele tinha 24 e ela 16. O coração disparado, balançando em corda bamba. Alguns anos de convivência, harmonia e entusiasmo. Casaram-se no dia 6 de maio, ao som de “Roberto Carlos”. A primeira visita da cegonha não tardou, e decidiram mudar-se para uma casa mais ampla, bem decorada com peças caras. O menino iria se chamar Gabriel – enviado de Deus. Desde criança mostrou temperamento forte, decisivo, um ar autoritário de quem sabe o que quer. Pouco disciplinado, era extremamente mimado e irresponsável. Os pais viajavam no fim de semana, a casa tornava-se uma desordem; amigos embriagados, havia mais álcool que churrasco. Na escola, um comportamento irregular, desrespeitava professores para impressionar. Depois de um tempo, tédio tomou conta de si, pensou em sair de casa, ir mundo a fora curtir. Os pais foram contra, alegaram ingratidão, rancor, despeito. O menino, revoltado, trancou-se no quarto e pôs-se a refletir. Daria um jeito de viver uma nova realidade, conseguiria quebrar os laços que o mantinham ali. A festa do Manteiga seria na sexta, uma oportunidade para se divertir. As gatas estariam lá, haveria biritinha pra descontrair. Umas idéias na cabeça, sabia como mentir. “Pô pai, tem simulado amanhã, preciso de ajuda aí. A Ritinha é gente boa, vai repassar as paradas, ajuda a força aí”. O pai finge que não vê, a mãe precisa se tratar, tantas minhocas na cabeça, difícil acreditar. A música era pesada, havia fumaça no ar, dançavam sem se preocupar. Algumas subiam a saia, desciam do salto, queriam experimentar. Um cara, tal de Piolho, oferecia o que Gabriel ainda não conhecia. “Prova aí, cara, pra você faço por uma mixaria”. As cores transbordavam sensações, queria ficar longe do chão. Parecia não cansar, nada de medo, desgosto, desespero. Nunca se sentira tão feliz. A mãe não percebia, mas o pai estranhava sua boa educação. Tentou se aproximar, averiguar, queria ajudar. O enviado de Deus jurou arrependimento, disse que agora iria se redimir. Iria se reajustar, claro. Aprendeu a fumar, por influência dos amigos, começou a roubar. A família endinheirada não poderia suspeitar, por seus próprios meios iria se arranjar. Teria que se virar, comprar o pó, o preço estava no gogó. Piolho agora estava preso, na época da festa já era suspeito. A polícia fechou o circo, levou o garoto para um abrigo. Gabriel soube que a droga ainda rolava por lá, o cara nunca iria se curar. Provou um pouco mais, abusou demais. O surto foi nervoso, pobre Piolho, seu final feliz foi pro esgoto. Gabriel não se importava, nada mais parecia o interessar. Vivia ligadão, pulsando forte o coração. Em um desses fins de semana, em que os pais estavam fora, pegou o carro escondido, entrou na contra mão. Lembra-se de pouca coisa, sofreu uma contusão. O médico diagnosticou o uso das drogas, o pai fez a ligação. A mãe só conseguia chorar, pensava no que os vizinhos iriam falar. Contra sua vontade, foi levado a reabilitação. Passaram-se três anos de loucura e solidão. Queria voltar a estudar, poder trabalhar, reconstituir a própria vida. Agora não possuía a beleza de antes, estava magro, pálido, desgastado. Sentia na pele o preconceito e a repulsão, tratado pior que um cão. A mãe o desprezava, sonhara um futuro diferente para o tal enviado de Deus. O pai estava ali, lhe estendia a mão, o filho almejava sua aprovação. Mudou-se de cidade, era o melhor para recomeçar. Soube de seus ex-parceiros. Alguns estavam presos, outros sob lápides, outros tantos ainda resistiam ao subúrbio brasileiro. Gabriel retornou a escola, para conseguir respeito, iria se respeitar. Conheceu Joana, nem sabia mais o que fazer ou pensar. Sem contar as experiências vividas, agora, queriam o mesmo para as suas vidas. Como uma forma de se ajudar, decidiu o seu destino ao dela juntar. Estava apaixonado, as coisas iriam mesmo melhorar. Passaram juntos no vestibular, queriam constituir família, pensavam em casar. Ela sonhava em ter filhos, ele não os queria. Lembrava-se bem de sua adolescência, de sua insolência, da falta de decência. Não queria por mais um ser a sofrer por aí, vivendo sem controle de si. A discussão virou uma confusão, ele, enfim, percebeu que não merecia seu coração. Ela iria achar um cara mais ajuizado, sem manchas no passado. Resolveu se mandar, seria um lobo solitário, durante a noite se punha a uivar. Pedia ajuda as estrelas, queria uma força, uma certeza. Torrou o salário com cerveja e orgia, voltou a desvincular a própria vida. As drogas o chamavam de volta, seduziam. Dormia nas ruas, lutava por comida. Para quem estava destinado a uma vida de gala e brilhantina, se auto-destruía. Voltou a sua cidade, com o pouco dinheiro que ainda possuía. Sua mãe o recebeu com desdém, culpava-o pela morte do marido. Ataque cardíaco, que o desgosto produzira. Nunca sofrera tanto na vida, nem em seus momentos de depressão. Seu pai havia ido para o céu, morreu sem lhe fornecer o perdão. Queria juntar-se a ele, mesmo consciente de que iriam para lugares diferentes. De qualquer forma, o inferno não poderia ser muito diferente do que vivia. Enquanto caminhava pela multidão, tentando esconder-se na escuridão, ouviu um sermão. Alguém contava casos de amor e gratidão, felicidade e satisfação. Dizia que o seu Pai era o único que poderia fornecer a salvação. Seu peito foi invadido por uma estranha ilusão, a de que poderia sim, ter realização. Imaginou como seria a vida, quis ter de volta Joana, sua boa companhia. As dores todas, já conhecia, queria experimentar a alegria. Com algumas contribuições, pôde pagar a condução. Encontrou Joana ainda sofrida por seu abandono, lhe ofereceu seu obro, abriu o coração. Contou tudo o que havia vivido, sentido e sofrido, mas que queria mudar, queria dar a volta por cima. O salário era pequeno, a casa menor ainda. Mas naquele lar, reinava uma estranha harmonia. Gabriel – o enviado de Deus, conheceu o poder do que seu nome remetia. A cegonha não tardou a ir visitar aquela moradia, e a história enfim se repetia. O final, ninguém conhecia.

terça-feira, 5 de maio de 2009


Você já se sentiu um pouco mais apagado que as outras pessoas? Ou sentiu que não pertencia ao espaço que estava a ocupar? Ou até mesmo que os outros te olhavam com um olhar meio torto? Bem, eu já. Talvez seja a chuva, acompanhada de uma cor cinza capaz de ofuscar qualquer tom de pele. Os raios de sol realçam a beleza e, nessa época do ano, deixam saudade. Talvez seja a sua primeira frieira, bem localizada no pé esquerdo, que a vizinha certamente não tem. Talvez seja o recente namoro da sua melhor amiga ou a possibilidade remota do seu futuro recente namoro. As razões divergem, assim como as sensações. No entanto, nesse momento você poderia ser um ovo prestes a ser frito. Uma futura galinha degolada, uma criança esfomeada, um saco plástico, uma luva de borracha. Você poderia estar preso no trânsito, levando um tombo, terminando um relacionamento. Seu namorado poderia estar te traindo, talvez você até estivesse esperando um bebê. Você ainda pode emagrecer, amadurecer, crescer alguns centímetros. Há quem não tenha aonde dormir, o que vestir, a quem não tenha nem mesmo um conselho para ouvir. Melhor um copo ao meio que um vazio.

Meu lado bom

domingo, 3 de maio de 2009


Você é meu, e só. Quando se sente só, acocho nossos nós. Não nos fale em dor, só conhecemos o amor. Tem um brilho todo especial, maior e mais belo que qualquer cristal. Você é o que há de melhor em mim. Tem o dom de me fazer sorrir, faz florescer sonhos e rosas em mim. Quando me sinto só, acocha nossos nós. Eu te peço pra ficar, te peço para me acompanhar. Não posso evitar, é como uma eterna canção de ninar. Pode dizer que sou louca, sou. Arrasta-me de céu a céu, apresenta-me as estrelas que antes só via em teu olhar. Há um mundo esperando por nós, nunca seremos sós. E nada poderia tirar você de mim. É que por você faço tudo, danço tango, aprendo alemão. É que esperei tanto por você, que fico triste só de pensar em não te ter. Te entrelacei em meus braços, alinhei a tua vida na minha. É que sem você meu dia-a-dia seria uma eterna monotonia. Segurei a tua mão, solto nunca não. Têm vezes que a gente não se entende, o que é bem normal. Depois peço desculpas, entrego o jornal, ganho beijo e passo mal. Tem mel, deve ser. Joguei doce, não deu, cadê o coração? Agora é teu.

O mundo vai acabar, e ela só quer dançar!

sábado, 2 de maio de 2009


De quantas formas você pode ser? Com quantos anos você aprendeu o que hoje eu ainda não sei? O que diria se soubesses que estou interessada em você? Será que eu sou assim, tão fútil e descontrolada? Andei com pés tortos, os laços se romperam sem ninguém perceber. Estou cega, não vejo nada além de você. Faço-te promessas que não poderia realizar. Dedico meu corpo, minha mente, rosas e músicas pra você. Você, você, só você. Será que eu sou assim, tão boba e arrogante? Tomo tequila, danço pra você. O que quiser, estou disposta a fazer. Acendo um cigarro, quero impressionar. Você sorri, zomba de mim. E eu achando que estava agradando. Parabéns, caras feias pra você. Você, você, só você. Três dias trancada no banheiro, fazendo o que ninguém poderia saber. Unhas roídas, comprimidas, cabelos tingidos. Queria poder te ver no escuro, divertir você. Será que eu sou assim, tão inconsequente e depravada? Mamãe diz que de boba só tenho a cara. Aparece-me com outra de mãos dadas, parabéns, caras feias pra você. Sigo conselhos de amigos invisíveis, não ligo pro que já fiz. Não há mais esperança, tiro a roupa pra você. Você, você, só você. Quanto você ganha por mês? Com quantas dorme em um mês? E por mim, qual é teu sentimento? Será que eu sou assim, tão efusiva e inconveniente? Eu vou pro mundo da lua, não pretendo voltar, vou me adaptar. Caí no vazio e não há nada que possa fazer. Ponho um batom vermelho, sujando os dentes sem querer. E não há nada que eu queira dizer, minha voz falha quando chego perto de você. Querendo sempre mais, buscando um pouco mais, falhando cada vez mais. E você que já esteve no inferno, me diga como deve ser, o que devo fazer quando for minha vez. Obrigada pela atenção, parabéns, caras feias pra você. O mundo não gira ao seu redor, vou lhe dizer: merda vale mais que você. Eu só quero entender como posso não ser interessante pra você, sendo uma pessoa bem melhor. Vou lhe dizer: és tão sem graça, não merece nada do que tens. Parabéns, mais caras feias pra você. Procurando independência, desrespeitando avós. Será que eu sou assim, tão desprezível e descartável? Resumo-me a um nome que você não faz questão de dizer. Os laços se romperam sem ninguém perceber. Fiz-te juras e mais juras, você não quis. Teve meu corpo em exposição, os amigos cobiçavam, queriam passar a mão. Manteve-me fora de alcance, não por amor, mas por ego. Tua vaidade congelou teus sentimentos, fugiu de mim, saiu de si, foi embora e nem disse adeus. Se me pedisse para parar de estudar, para fugir de casa, para me entregar por inteiro a você, eu faria. E agora, eu não sou nada, não tenho nada. Parabéns, caras feias pra você. Você, você, só você. Aprendi que para sempre é só por enquanto. Vendi minha alma, corro contra o tempo, choro compulsivamente. Olhos atentos a tudo, tentando ver você em mim. Deixou-me pedaços teus, a parte podre de mim, a que mais exponho. Levei na bolsa umas histórias pra contar, quebrei garrafas, esqueci meu nome. Com quantas caras você vive? Quantas risadas forçadas distribui por dia? Quantas brigas compra por noite? A vida é minha, você que vá embora. Será que eu sou mesmo assim, tão complicada e depressiva? Plantou discórdia em meu coração. Parabéns, caras feias pra você. Você, você, só você. E agora, tudo o que faço é errado e obscuro, vários beijos em uma noite, só pra não cair na rotina. Idade adulterada, dinheiro suspeito, intimidades nada íntimas. Um cara estranho, uma menina problemática, orgulho e preconceito. Mal completou 16, o que pode saber? Só sabe, fala, pensa e vive você.

Todo mundo espera alguma coisa de um sábado à noite!

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Dias em que existe uma predisposição para se divertir. Planeja-se a melhor forma de se vestir, de arrumar o cabelo, a melhor maneira de distribuir sorrisos e chamar atenção. Tente ser agradável com todos, não seja uma pessoa negativa, descontraia, garota! Afinal, o que seria de mim sem vossa aprovação, sem teus encantos e influências? Não me basta o afeto dos íntimos, é preciso os olhares e apelos de todos. E apelam por todos os meus dotes: meu corpo, minha beleza, minha voz; tudo em mim é um convite para você. A forma como ando, me expresso, como te desprezo desejando ardentemente teus olhares e tuas atenções. Olhe para mim, repare em todos os meus traços, faça minhas vontades, me queira. Dia após dia, vou buscando melhorar, não por mim, mas por você. Tentando me adaptar a padrões, tentando agradar quem nem mesmo me convém. Medindo as palavras, diminuindo a roupa, jogando os dados. Contrabalançando malícia e inocência, amor e dor, fé e desespero. Suprindo necessidades e carências com futilidades e prazeres momentâneos. Abusando das amizades, das maquiagens, das bebidas, das comidas. Adotando posturas incomuns, rindo na cara do perigo.

Estávamos lá: as pessoas certas, o lugar certo, o texto persuasivo na ponta da língua. A música era alta e vulgar, a letra confusa. As roupas curtas; meninas expostas, como em vitrinas, esperando o melhor partido – melhor carro, maior grupo de amigos; no copo, a bebida mais cara. Por fora, apenas mais uma. Por dentro, vomitando.

Eu esperei por você, eu torço para que você venha. Eu chamo por ti todos os dias. Desde aquela noite em que você brilhou um pouco mais e, na multidão, foi quem prendeu minha atenção. Não que eu tenha sentido isso com tamanha intensidade, mas no dia seguinte
foi de você que lembrei. Desde então, venho camuflando angústias, fingindo interesses, forçando sorrisos, escondendo o rosto, omitindo a verdade, alimentando falsas esperanças, vivendo a vida de sempre. Caso você venha, estenda a mão e me convide a sorrir um sorriso verdadeiro, talvez aí eu volte a saber e viver um pouco mais de mim.

De amor e dor

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Havia muito afeto, beijinhos, chamegos e afins. Aquele gostinho de primeiro amor com cheirinho de limão. Depois de um tempo, cadê o sol, o céu, o mar? Minha vista estava obstruída por um único rosto. A beleza das estrelas não havia ido embora, ela apenas estava completamente concentrada naquela feição. Feição esta, que por alguma razão, eu não podia - e nem queria - apagar de minha memória. Experimentei beijar apaixonada, andar de mãos dadas, sonhar acordada. Experimentei fazer poesia, flutuar a luz do dia, esquecer da comida. Experimentei meu primeiro “eu te amo”, experimentei fazer planos, experimentei o odor azedo dos ciúmes de meu pai. E de repente havia cor, luz, brilho. Havia os teus sorrisos retribuindo os meus. E para mim estava tudo bem, e sempre estaria, enquanto eu estivesse aqui, contemplando a sua beleza e recebendo seus carinhos.


"Onde você se esconde, aonde te encontrar, em um lugar bem longe, em minha cabeça? Onde você se esconde, que nome você tem? Se você mora em Londres, se você tem alguém. Meu amor, me dê um sinal, dê um toque paranormal. Quero toda sua alegria, dias, dias, dias e dias. Será que é um sonho, será que é real, e vai marcar pra sempre a minha vida? Será que é do bem, será que é cruel, um anjo descuidado que vai cair do céu? Meu amor, me dê um sinal... Eu quero encontrar você, pra gente namorar a vida inteira. Eu quero namorar você, pra gente se encontrar a vida inteira."


Eu esperei o sol nascer, esperei você ir embora, para só então retroceder. Voltar ao tempo em que tudo estava bem, voltar ao tempo em que você estava aqui, voltar ao tempo em que eu sabia mais de mim. Eu costumava saber um pouco de tudo, conhecer meio mundo, ir e vir sempre que quisesse. Eu esperava e acredita muito mais em tantos outros. Dançava ao andar, pouco precisava falar. Havia sol e poucas nuvens, mas hoje, amor, está frio lá fora. Voltar ao tempo em sorrisos me eram dados facilmente e em que eu punha a mão no fogo por minha gente. Voltar ao tempo em que você procurava por mim e juntos fazíamos planos sem fim. Mas nem todo livro possui um final feliz, assim como até os melhores beijos chegam ao fim. E hoje, amor, está frio lá fora.

Melhor lembrança :)

quinta-feira, 16 de abril de 2009


Me custa acordar cedo, levantar antes mesmo do sol se espreguiçar. No entanto, lembro-me que é você quem está ali, deitada ao meu lado. Visto meu melhor sorriso, engano meu humor azedo e te beijo com gosto de hortelã. Me angustia pensar em mais um dia de trabalho, em minha cabeça antecipo as dores do cansaço. No entanto, lembro-me que é a nossa casa que preciso sustentar, que é a você que preciso agradar, mantendo a conta alta no florista da esquina. Visto meu melhor casaco, engano a barba por fazer e te beijo com gosto de café. Me entristece ficar sem a tua companhia. No entanto, lembro-me que hoje é quinta, e que às quintas costumamos almoçar no mesmo local. Visto meu melhor paladar, engano a fome soberba e te beijo com gosto de feijão. Me aborrece a fumaça que sopra dos prédios, o barulho dos carros, o sol forte e ardente. No entanto, lembro-me que teus cabelos são dourados, que brilham e entontecem como os raios de sol, e que a tua voz é doce e suave, como uma canção de ninar. Visto meu melhor contentamento, engano a saudade que sufoca e te beijo com gosto de querer. Me convém seguir o caminho de volta. No entanto, lembro-me que é preciso passar na padaria, falta queijo para o jantar. Visto meu melhor tato, agilizo as coisas e te beijo com gosto de vinho e bolonhesa. Me satisfaz o momento de ir deitar. No entanto, lembro-me que ainda há muito o que fazermos antes de adormecer. Visto minha maior alegria, guardo minhas melhores lembranças e te beijo vários beijos de paixão.

Ê saudade!

sexta-feira, 3 de abril de 2009


Porque chega um momento em que cada um deve seguir seu próprio curso, ir em busca da própria história. Nessa bobeira da vida, acabamos deixando de lado cristais brutos, lapidados com muito amor. E nesse clima de partida, como consequência da vida, ocasionalmente conhecemos a saudade - lembrança triste e suave de pessoas ou coisas distantes ou extintas, acompanhada do desejo de as tornar a ver ou possuir.
Mais encantador que acompanhar nosso próprio crescimento é admirar o das pessoas que nos cercam. Tão bom ver de perto a juventude, tudo leve, fresco, poético. Uma beleza só, como uma canção ainda por se compor. Condenados e ligados a nada além da própria liberdade. Uma vontade de conhecer, se renovar, apaixonar-se todos os dias por pessoas, coisas e lugares.
Alguém muito bondoso, tratou de criar a saudade. Isso é bem coisa de brasileiro, é tanto que esse termo só existe no nosso dicionário. Egoísmo seria, tomar por posse tudo e todos que queremos bem, impedindo que outras pessoas desfrutem de tanto bem querer. E como obrigação de mantê-las por perto de alguma forma, ficam as lembranças, a saudosa vontade de gritar que se ama, que se sente só, que se quer de volta. Seja dividindo momentos do dia-a-dia ou nos falando apenas quando Deus manda, dividindo encontros e despedidas, ou narrando a própria partida.
No entanto, enquanto as estrelas brilharem e sonhos brotarem no meu coração, eu vou lembrar de vocês. De cada paixão, cada amor de amigo. Os levarei eternamente comigo. Cheiro de pão com café, lençol lavado, roupa passada, terra molhada. O primeiro beijo, o primeiro 'eu te amo', o primeiro 'pra sempre' que durou um mês. Eu vou por aí, regando com amor cada despedida.
Só mesmo quem se faz presente, leal aos versos do verão passado. Só mesmo quem tem uma canção, um nó de união, sonhos de plantão. Só mesmo quem fala abobrinha cheia de abobrinhas e divide o mesmo colchão. Só mesmo quem senta e nem fala, por tanto tempo, e nem sente nada. Só mesmo assim perdura, eternamente dura. Recolho meus cacos e sigo, como quem nada quer e tudo quer.

Tédio!

terça-feira, 31 de março de 2009


Incrível como as pessoas nunca se satisfazem com o que realmente possuem. Estão sempre em busca de algo a mais, ou melhor, à espera de algo mais. O momento não é o melhor, muito menos o mais apropriado, a melhor fase de sua vida ainda não chegou; é necessário que isso ou aquilo aconteça para que só então se chegue a plenitude.
A escola não basta, afinal, a faculdade sim é uma bela vida. Liberdade, auto-afirmação, autonomia. Além, é claro, das festas, novas amizades, nova rotina. Até que, enfim, ela chega. E tu percebe, decepcionado, que as coisas não se divergem tanto assim. Tirando o fato de você ter que estudar um pouco mais, sentir saudade dos velhos amigos e possuir dois ou três novos pêlos. Mas ainda assim, não perca as esperanças, nada como um bom emprego para consolidar felicidade.
Depois de um certo amadurecimento, natural ou forçado, é possível entender o porquê de - frustrando nossos planos certos da adolescência - não ficarmos ricos em um ano. O mercado de trabalho, assim como qualquer coisa na vida, é um pouco mais complicado do que esperamos. Então, é preciso sonhar com uma família, um bom casamento...
Sempre à espera do príncipe encantado. Aquele que vai aparecer na hora certa, no lugar certo, te dizer as coisas certas e tu imediatamente vai perceber que é o tal do cara da sua vida. Sempre à espera da aceitação naquele grupo de amigos. Sempre à espera do reconhecimento da sociedade. Sempre à espera da própria história.
Custa e machuca entender que tudo isso é utopia. No entanto, é pior quando já esperamos demais e não podemos voltar atrás. Pare de achar que algo vai acontecer e faça com que aconteça. Você é responsável por sua história, e, ao contrário de você, ela não está esperando para começar. Levanta daí, para de ler as baboseiras que eu escrevo e vá viver, vá!

Seja um idiota!

sexta-feira, 27 de março de 2009


Como se já não fosse suficientemente insatisfatório todos os momentos de extrema seriedade que a vida nos cobra dia após dia, algumas pessoas ainda levam isso para as coisas pequenas. Talvez por hábito ou simplesmente por subestimarem as tais "coisas pequenas". Com a pouca experiência de vida que tenho e o pouco conhecimento que já nutri, sei perfeitamente que é desses pequenos momentos, tidos como insignificantes, que se conhece a tal felicidade. Ninguém sorri 24h por dia e se o preço do condomínio subir não irão achar lindo, talvez o sindico - bom para ele. No entanto, deixemos a seriedade para quando ela for irrevogavelmente necessária. No mais, seja um idiota.
Se caiu, acredite: as pessoas irão rir. Seja a primeira delas, dê o exemplo. Estão olhando pra tua namorada? Que tal parar de bancar o homem das cavernas, guardar os palavrões para si e pensar: Ela está comigo - hum - sorte a minha. Na sua grande maioria, os relacionamentos em geral se desgastam pela simples falta de idiotice. Antes de vergonhoso ou constrangedor, chega a ser saudável rir dos outros e de si mesmo.
Talvez hoje, no auge dos meus 16 anos, ainda não tenha passado por dificuldades suficientes para levar a seriedade um pouco mais a sério. (?) Bem, a verdade é que eu ainda não cresci, e nem quero. Agora, irei me recolher a minha própria insignificância, a de uma adolescente satisfeita demais com a própria vida e que usou isso como um hálibe para tentar argumentar sobre a tal da felicidade.

Não estás aqui

E como num todo, sou só metade se não estás aqui. Se não estás aqui, os pássaros se esquecem de cantar e até as flores de encantar. Meu mundo mesmo, só volta a girar se estás aqui. Mas não estás aqui, e eu me ponho a vagar; um violão, uma pinga. Será certo fazer o coração de um poeta se partir? Se não estás aqui sou só tristeza, carranco. O mar fica com pena de mim. Ah, se estivesses aqui, eu me esquecia do calçado, corria pelo asfalto, ignorando buchichos e afins. Se não estás aqui, ponho-me daltônico; perco as cores, perco o sono, perco o rumo, perco o sorrir. Se não estás aqui, não sei o que é alegria, já que um dia prometeste que a tua seria sempre minha; e a minha em si, somente a ti pertenceria. Mas tu não estás aqui, não foi fiel a tua promessa, muito menos a mim. E eu, como bobo que sou, gabava-me de não ser bobo por ninguém; querida, sou bobo, muito bobo por ti. Se não estás aqui, goiaba passa a ter gosto de banana; canto para ninguém ouvir; as nuvens deixam de perfumar os sonhos, afinal, se não estás aqui, só há pesadelos em mim. Mainha, se estivesses aqui, aquela minha vizinha, D. Marcinha - mulher cheia de prosa, de muita conversa -, deixaria de me perseguir. Dizes que sou malandro, poeta, boêmio, que possuo o dom de persuadir. E que, então, toda cocota e maria brejeira vêm logo atrás de mim. Ô mainha, se estivesses aqui, eu diria que só tenho olhos para ti, e que há de ser sempre assim. Será mesmo que não vês que sou louco por ti? Vou me cortar com uma faca de cozinha; abacate, pão de mel, céu, bossa nova, feirinha. Seria lindo de se ver, tuas curvas fazendo charme, refletidas nos mares da Bahia. Se estivesses aqui, não te deixarias partir; te poria em tronco, corrente, açoite. Te obrigaria a ser eternamente, neguinha, eternamente, sempre minha. Mas não estás aqui... Mas não estás aqui... Mas não estás aqui...

Tempos modernos, ein.

segunda-feira, 23 de março de 2009



Despertencimento. Ainda espero pelo momento em que eu vou estar sentada, recordando tempos de adolescência. Tempo esse que não a mim, sinceramente, devia de pertencer. Mas o que há de se fazer? Nascer na época errada não foi de todo meu querer. Depois dos céus e dos infernos, o que se há de haver? Não se carece de uma sala cheia de espelhos, meu reflexo é você. E sempre que me vejo em ti, há de dentro para fora uma menininha usando saia codê, rouge, glacê. Rock Dancers, love song, baby. Bill Haley, Johnny Cash, Elvis Presley? Puro Glamour!Transpirando feminilidade, ápice da moda, da publicidade, da boa música, do bom gosto.

"E então, eu estava imaginando se você gostaria de ir ao Baile Orquestral ouvir Élcio Álvares essa noite. Passarei na sua casa às 8 (vestido com esmero, topete, muita brilhantina, sapatos bem engraxados), com meu Cadilac De Ville vermelho. Eu poderia te ensinar a dançar bolero... Aliás, já comentei que sua face fica ainda mais graciosa com pouca pintura?"

Cute, huh?

E ainda assim, há quem duvide

sexta-feira, 20 de março de 2009

...Cada verso que eu ainda não escrevi, cada lugar que me falta conhecer, cada beijo guardado; tudo esperando por você. Até os dias não se demoram mais a passar; as horas, os minutos, já cansei de contar. Tenho feito promessas, juras de amor ao vento, corações rabiscados em um papel qualquer.

"Somente sendo feliz por ela se importar comigo. Somente me regozijando por ter ganhado a sua afeição. Somente imaginando dia após dia sentado ao seu lado, ouvindo sua voz e recebendo seus sorrisos." (sol da meia noite)

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Tô com saudade de você, do teu calor, dos teus gemidos. Tô com saudade de você reprovando a minha roupa, dos teus discos, da tua voz rouca. Tô com saudade dos momentos de desejo infinito, de sono leve, de fácil riso. Te quero por inteiro. Tô com saudade de você me ligando a tarde inteira, dos beijos, das brincadeiras. Tô com saudade de você, meu melhor amigo, meu homem, meu menino. Tô com saudade de você, do teu toque, teu sorriso, dos lábios teus, do teu cinismo. Então não demora, trás minha paz de volta, carinho. Vem pra mim, vem de volta, com você, tudo a minha volta é lindo. Tô com saudade de você, do teu coração que costumava andar colado ao meu.

Quando a morte conta uma história (1)

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

(O acidente)

A morte existe, não como a retratam, mas ela existe. Ela decide a forma como irá levá-lo, o quanto você deve sofrer e até mesmo quando você deve ir. Torça para que ela simpatize com você. Fria, não costuma se sensibilizar, bem, não costumava. Conheça agora a história da pequena Emmily, narrada pela própria morte. O dia em que a morte reparou pela primeira vez em uma de suas vítimas.

Acreditava ser um dia de trabalho qualquer, já estava decidido que o trem que cruza a Quinta Avenida com a Flexeiras iria colidir em um carro e uma criança de 6 anos iria morrer. Seria apenas mais um dia tedioso de trabalho, afinal, todas as pessoas falam de mim, temem a mim, mas nenhuma se importa realmente comigo. Quando alguém é levado, sentem pela pessoa, pela família, me condenam, mas nunca nenhum deles parou para pensar que eu esteja apenas cumprindo com minha obrigação. Nesse dia, no entanto, pela primeira vez alguém reparou em mim, uma menininha de 12 anos.
Me atrasei um pouco, mais alguns instantes e o carro conseguiria atravessar a linha do trem. No banco da frente, seguindo a risca o planejado, o pai falava ao celular. No banco traseiro, a irmã do menino que iria morrer, me olhava com uma expressão de espanto. Ela parecia pressentir o que iria acontecer, o coração palpitava, estava pálida, sentia calafrios. O irmão dormia deitado em seu colo, ela o abraçou com tanta força que chegou a avermelhar o braço do pequeno. Não permiti que ele despertasse. Ouviu o barulho do trem, uma forte luz no rosto, daí não viu mais nada.
Permiti que a criança ficasse desperta por cerca de cinco minutos. A menina tentava me convencer a deixá-lo ficar. Queria gritar, chorar, mas não se mexia. Estava em pânico. Naquele instante, percebi que ela parecia mais comigo do que eu poderia imaginar. Os grilos já começavam a cantar, as árvores aos poucos ficavam negras, os ventos eram intensos. Um guarda chegou ao local, procurava um responsável pelo acidente, como um culpado? O que, afinal, ele poderia fazer, me prender?
Decidi observar os passos daquela menina, sua curiosidade, pertinência, o súbito interesse por minha existência lhe condenou a uma vida guiada por mim. Daquele momento em diante, eu iria acompanhar cada perda e ganho daquela menina, até decidir em qual momento a levaria comigo.
O tempo foi passando, as coisas foram seguindo o seu rumo natural, as folhas secas aos poucos se renovavam. A menina foi crescendo, se adaptando a minha presença. Comecei a sentir um leve carinho por aquela que agora era uma mulher. Até que, recebi ordens superiores. Havia chegado o momento de levar Emmily. Quando a morte ocorre a uma pessoa "bem vivida", já em sua fase idosa ou até mesmo adulta, as pessoas tendem a "aceitar" melhor. Mas quando ela chega na ânsia de sua juventude, deixando sonhos, planos ao meio, cadernos em branco, roupas recém usadas no armário e um monte de disposição; o sofrimento e a recusa é bem maior. Chega a ser cômico, mas eu não poderia aceitar que Emmily passasse por isso. Eu que havia provocado tal sofrimento a tantos outros, não aceitava que uma jovem tão saudável fosse arrancada de sua realidade contente, apenas porque sua linha da vida é um pouco mais curta que a dos demais.
A morte não pode nutrir sentimentos por ninguém. É essa a lei da vida. É necessária a ida de alguns para a então chegada de outros. Seria em uma quarta-feira chuvosa, ela estaria de branco, com o cabelo preso. O dia do crime chegou...

Quando a morte conta uma história, você precisa parar para ouvir.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

E muitas vezes já me perguntei, me questionei, tentei entender quando foi, como foi, aonde foi que eu deixei de amar você. Quantas vezes já tentei ir pra longe, fugir, mas sem conseguir sair de ti. Queria poder compartilhar o quanto eu sofri, o quanto penei. Perto ou longe, aqui ou aonde, você ainda está. Está em todas as coisas, em todas as cores, em cada possibilidade e impossibilidade de todos os meus dias. Afinal, quando foi que eu deixei de te amar?
Você sempre me pareceu a mulher ideal. A forma como arruma cuidadosamente o cabelo e a mesma forma em que me obrigava a reparar apenas com o olhar. Se estava com fome, você me vinha com a carne, o chá da tarde. Eu um homem, você uma mulher. Os lábios pintados de vermelho indicando a tua personalidade, tua ousadia, garra e coragem de quem não costuma ficar parada em uma boate. Tua cara de gata, teu instinto animal, teu fio-dental. Pode ter sido ontem, hoje pela manhã ou a bastante tempo, mas eu deixei de amar você.
Você veio de longe, de um lugar que eu não conhecia e nem fazia questão de conhecer. Me apresentou os mil tons do teu céu, mostrou teu rosto, me abençoou, me beijou. Você não passava de um desejo que eu queria para mim. O natural nesse mundo é se desejar o sossego, constituir família, ter um bom emprego. Você veio de um lugar que eu não conheço, quebrou meus padrões, me mostrou que não era bem assim. Eu estou vivo, isso já é um milagre e sou um privilegiado. O reino dos céus é um direito, eu desejei ir para lá com você. Mesmo com tudo isso, não sei quando, onde, como, mas eu deixei de amar você.
Amor, eu sinto a sua falta, como quando você me disse que esperava um bebê. Naquele momento, eu senti a imensidão do amor de quem se ama. Você tem dom, sabe o tom. A melhor forma de adoçar meu café, de me pôr de pé pela manhã, de passar meu colarinho. Às vezes me pergunto se o que eu te dei foi muito pouco, hoje não é mais nada, afinal, eu deixei de amar você.
Sempre quis ter um amor real. Daqueles que tiramos de dentro de nós, dos nossos sonhos, e entregamos a alguém para que possa torná-lo real. E agora, o que eu vou fazer, como fico sem você? O seu nome ainda está gravado no meu braço, dentro de um coração vermelho. Não sei como, onde ou quando, mas deixei de amar você. O teu cheiro ainda está no travesseiro, o cachorro ainda espera na porta o seu retorno, o café não tem o mesmo gosto.

?

sábado, 14 de fevereiro de 2009


Havia muita fumaça, alguns gritos, pouca luz. As crianças choravam, ouviam-se gemidos de animais sendo maltratados. Unhas quebrando, cabelos caindo, vozes cada vez mais abafadas. Todos sentiam fortes dores nas costas, as mãos estavam calejadas. As flores deixavam involuntariamente as pétalas caírem, estas eram levadas pelo vento até onde nossa vista não alcança. Não havia música, apenas ruídos. A grama estava seca, o sol fazia nossa pele arder. Os telefones não paravam de tocar, mas ninguém os atendia. O cheiro era insuportável, não encontrávamos formas de nos proteger. O preto e o branco prevaleciam, não havia brilho, poesia, fé. Algumas pessoas corriam, não sabiam para onde estavam indo. Outras lutavam contra a própria sombra, sentiam-se perseguidas. As ruas estavam escuras e desertas, o vento provocava determinados sons apavorantes. Ruas sem saída, fim de linha, portas trancadas. Algumas pessoas estavam sendo violentadas naquele momento, dariam tudo para sobreviver. Algumas pessoas estavam se cortando naquele momento, dariam tudo para morrer. Loucura, um bebia o sangue do outro. Os carros não ligavam mais, os rios secavam, o tempo começava a esfriar. A cidade parou por alguns instantes, as pessoas estavam envelhecendo, tornavam-se agora amarguradas, sofridas, dignas de pena.

Dias em que a tristeza toma conta da gente...

Love

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Hoje mesmo. Nunca imaginei que você continuasse a me amar, que você poderia voltar. Sabe aquele sossego, misturado com desejo, que te arrebata a qualquer hora? Hoje, só mesmo a solidão me basta, quero mais estar na minha tranquilidade, para que possa te escrever sobre o que ando sentindo, vivendo, sobre tudo o que eu tenho guardado a tanto tempo para lhe dizer. Amanhã é domingo, dia de almoçar com vinho, escutar uma boa música, beijar o mais molhado de todos os beijos. O tempo continua nublado, as plantas adoram chuva, mas o teu sorriso não permite que as nuvens tirem a beleza do sol. O frio ainda está ali, vamos passear de mãos dadas, dar risada, quero olhar na tua cara e dizer que estou amando. Amo como quando te vi pela primeira vez, aquela magricela que mal conseguia com os livros de pré-universitária. O frio é um motivo pra você me abraçar. Ainda lembro da nossa primeira conversa, você me parecia bem mais desinteressante do que realmente é. Tão sem graça, desengonçada, as unhas roídas. Você sabe o que me faz feliz? Lembrar das nossas idas a biblioteca, do teu rosto de boneca, da primeira vez que eu toquei você. Assim como um homem toca uma mulher, era a primeira vez. Cansei de me perguntar porquê você se foi, e aquela forte chuva celou o momento em que eu chorei. Você soltou a minha mão, disse que precisava de mais, que amava outro rapaz. Nunca imaginei que você poderia voltar, que iria me atormentar, tirar o chão sob os meus pés. Hoje tem curvas que antes não tinha, os cabelos agora possuem uma única cor. Minha barba arranha o teu rosto, meus dentes cruzam com os teus, deitado no teu colo, confusão, que loucura. Você adora caju, gramado molhado. Eu sou uma boa pessoa, você uma linda mulher. Quer cantar comigo, sonhar colado, dormir acordado, nadar no mesmo mar que eu mergulhei? Vamos engravidar, vamos brindar! Eu amo você, dona dos meus olhos, dos meus sentidos. Escrevi uma música, ela descreve os movimentos dos teus lábios, a perfeita simetria, a ligação entre a tua língua e a minha. Diz que me quer, eu te quero também. Faz as pazes comigo, cola teu corpo no meu, atende meus telefonemas, sou eu, o dono dos sonhos teus. As portas continuam abrindo, as pessoas vêm chegando, e cadê você? Não me deixe de novo, meu bem. Me diga por onde andam os teus pés pra que eu te siga, eu te quero tão bem. Se você vier comigo, prometo reparar a cada troca de roupa tua, comentar a cada vez que pintar as unhas. Não me canso de olhar pra você. Eu só tinha cinco anos, ainda assistia futebol com o vovô, ele costumava dizer: "Sabe aquele fusquinha? Está ali esperando por ti com a tua gatinha". E agora que eu amo você, o mundo não precisa de esforço pra me agradar. Só prometa que não vai me deixar.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

A morte é uma idiotice, nada além disso. Tantas pessoas preocupam-se mais com ela que com a própria vida. Algumas vezes, ela usa artimanhas para se aproximar de você, descobrir suas fraquezas, seu ponto fraco. Depois de escolhido, é só uma questão de tempo. Minuciosamente, desvenda teus mistérios, apavora as tuas certezas, te observa a cada instante. Até que, quando menos se espera, te pega em uma tarde quente do mês de outubro. Talvez a caminho da escola, depois de uma briga com a esposa, durante uma noite de sono. Quando ela se interessa por alguém, pode demorar uma eternidade até levá-lo. Não por pena ou sensibilidade, a morte não expressa sentimentos, ela simplesmente achou sua trajetória de vida interessante e quer divertir-se um pouco mais. Trata-se de um jogo de sedução, é necessário saber envolver a morte, encantá-la. Quanto mais acuada, reprimida, temida ela se sentir, mais desejo de lhe ter por perto vai contrair. Não se esqueça que a morte não é nada além de uma grande idiotice. Quando resolve aparecer para uma pessoa já "bem vivida", digamos que o conformismo seja maior. Mas e quando ela põe fim aos sonhos e planos de um jovem na flor da idade? Revolta generalizada. É mais ou menos como um livro recém impresso, deliciosamente preparado, borbulhante de euforia e ansiedade, expectativas para uma nova vida, uma nova história. O livro fica pela metade, como uma rosa que foi arrancada antes de desabrochar. O sonho de fazer vestibular para medicina, de constituir família, de viajar pelo mundo, de plantar uma árvore ou fazer uma tatuagem... Fim do jogo.

Bons tempos

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009


Durante uma de minhas adoradas aulas de literatura, "meu" charmoso e galanteador professor citou a sutil diferença entre saudade e nostalgia. Ah, como eu adoraria chamá-lo de meu. Não me envergonho por assumir que só agora reconheço a real beleza de Machado de Assis. Nostalgia se assemelha aos meus sentimentos por meu professor - desejo, vontade de possuir - a sutil diferença é o fato disso nunca ter me acontecido antes. Não estou cobiçando uma situação vivida e saudosa, minha cobiça é por algo que estou em ânsia de viver.
Nostalgia é o que sinto quando me recordo dos bilhetes de amor nunca enviados, dos amassos que o pudor não permitiu que se finalizassem, dos beijos que chegavam ao fim por cansaço. Minha vontade em certos momentos é subornar um passarinho, com argumentos infundados, vindos do coração. Para que ele chegue até onde meus lábios não alcançam e cante para ti meus versos de solidão. Portanto, não se assuste se a um acaso um pássaro entrar pela sua janela e, através de prosas e velas, tentar te convencer que o melhor é voltar para mim. Fui eu quem mandou o malandrinho, pedi que lhe roubasse um beijo e voltasse até aqui. Como quem canta os versos que eu mesma fiz: "Ai que amor grande, sofrido, demente! Ai que saudade sem fim." (...) Das angústias fiz estes versos que viraram uma canção, relembrando o que hoje é minha nostalgia: meus tempos de boemia, embriaguez e paixão.