terça-feira, 24 de novembro de 2009

Não havia palavras, nem mesmo murmúrios quase calados. Havia olhares. Olhares apenas. Desses olhares acanhados que se formam com massa fina, quase imperceptível ao paladar. Olhares que se cruzam e despertam arrepios nervosos, cheios de censura. Não devia ser permitido gostar assim. Gostar tanto de um olhar sem expressão. Um olhar calado, carecendo de atenção. Tão malvado, tão constrangedor. Há tão pouco ela o vira e fora vista. Antes, ela o via só. Seu olhar andava vago, desconsertado, cheio de pavor. Mas nutria uma esperança: a do olhar do ser amado vir de encontro ao seu, o amador. Sentiria um fervor invadir-lhe o peito e desfazer-se em mãos tremulas e cenas vãs. Estaria, então, perdida em devaneios e sonhos seus, não mais seus, agora alheios. Andaria tonta, seria o amor.

Ai, que menino bonito, do cabelo claro e liso, com um quê de raio de sol.

Uma menininha e sua flor

domingo, 15 de novembro de 2009

Conheço uma menina que possui uma flor. Sua flor, outrora rosada, agora está amarelada e envelhecida. Sua flor está suspensa em palavras soltas, rabiscadas em uma folha que cheira a morango. Sua flor marca a página trinta e sete do seu livro de anotações.

Conheço uma menina que escreve sobre todas as coisas.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Os bons ventos trouxeram de volta lembranças há muito já esquecidas. Aquelas tardes quentes em que nos banhávamos de suor, alheios ao ventilador. Conversas minuciosas, restritas a uma confiança que só cabia a nós dois. E por mais que eu diga que nem penso a respeito, que já nem quero mais... ria na minha cara, diga que me conhece bem. Você continua o mesmo, adorável como nunca deixara de ser. Talvez, se seu rosto não sustentasse mais aquela fisionomia displicente, arredia... confortavelmente confortável ao cruzar e manter os olhos fixos aos meus. Talvez, quem sabe... seria tão diferente, mesmo parecendo tão igual. Levaram-me de volta há um dia qualquer. Estávamos em 2007 e o meu cabelo era longo, longo como os dias que vieram após. Então, diga que me adora e que pensa em mim como diz pensar. Diga que nenhuma outra o faz sentir igual... e eu o queria de volta, completamente e absurdamente meu, apesar de saber que já não é e que já não deve ser assim... apesar de saber que é preciso amor para recomeçar. Entre tudo o que restou de nós, por onde anda o amor?

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Vocês não entendem.

As minhas mãos ficam geladas e logo começam a suar sempre que ele está por perto. Minhas pernas ficam bambas e os meus dedos se encolhem sempre que ele se aproxima. Sempre que ele está por perto, meu coração grita e meus pêlos se arrepiam – curiosos e atentos a cada mínimo movimento. Vocês não poderiam entender, já que nem mesmo eu entendo. É curioso como digo não conhecê-lo, mas sei diferenciar o som dos seus passos. É curioso como sei distinguir o ruído da sua voz em meio a tantas outras, e ainda assim, me julgo indiferente a sua pessoa. Não sei o que o faz sorrir, mas conheço e gosto do seu sorriso. Suas palavras não se direcionam para mim, mas me cumprimentam na passagem. Não anda em minha direção, mas ainda estou parada, esperando. E talvez seja piegas ser assim, viver assim, gostar assim... mas sou, vivo e gosto. Eu quero ter uma vida piegas, e algo me diz que você também.