quarta-feira, 21 de abril de 2010

Sobre as manhãs:

A manhã é um curto espaço de tempo destinado aos sábios para se tomar café.

Sobre o café:

O café é a arte afrodisíaca que aquece nossas almas em dia de chuva.

Sobre a chuva:

A chuva é a lágrima daquele que tanto chora pela falta de quem ama.

Sobre quem ama:

Eu moro em uma casa pequena, trabalho escrevendo sobre a vida, estudo sobre a arte de escrever e amo um moço que aos sábados, e, somente aos sábados, vem me ver.

Sobre quem se ama:

Tua doçura é tanta que até o teu riso rouco faz cócegas no meu coração.

Quero flores

terça-feira, 20 de abril de 2010

Pouco me importa se interessa às pessoas ou não. Apenas estou cansada de andar pelas ruas recolhendo palavrão. Então, sob meus pés, semeio flores das mais diversas espécies. Se, amanhã, me esbarro com arrogância, colho um girassol e faço dele um belo chapéu. Se mais tarde vejo o preconceito rondar-me, cumprimento um beija-flor que esteja de passagem. Não me incomoda ver a multidão que topa com as ruas nos dias de chuva, presenciar o descaso para com a água limpa que do céu nos cumprimenta, é o que me dói. Para uma menina que vive de sonhar, machuca ver as pessoas que preferem andar pelo asfalto a voar.

Coisa de criança

segunda-feira, 19 de abril de 2010


Perguntei ao papai porque as crianças nascem e por onde elas saem. Se não somos feitas como as sementinhas que brotam do chão, então de onde vêm nossos braços, pernas e mãos? E será que tenho mesmo, já que não o vejo, um coração? E por que sou assim, pequenininha, se tão grande é meu irmão? Mamãe diz que cada um tem sua grandeza, seja pequeno ou não. Poxa vida, ainda me corrigem na escola por eu dizer que não posso sentar atrás da Vanessa, por conta da sua grandeza.
Papai também não soube me explicar porque devo arrumar minha cama, se à noite vou bagunçá-la outra vez. Ou porque meu quarto é rosa, se eu o queria xadrez. Se fantasmas não existem, então pra onde vai toda a gente morta? Se não posso trancar, então por que a chave na porta? Se bebo um copo com água, por que com água devo lavá-lo depois? E por que ao invés de pizza, tenho que comer feijão com arroz?
Mamãe nunca soube me dizer se Deus é ou não brasileiro. E se ele não for, como entende esses idiomas do mundo inteiro? Se o Pequeno Príncipe é menino e a Alice é menina, então por que não se casam os dois e vão pro País das Maravilhas? Também não entendo porque me mandam estudar matemática, se serei bailarina.
Por que existem times, se tudo é futebol? E por que religiões, se Deus é um só? Por que tenho que cantar o Hino Brasileiro, se não sei o que significa? E por que os meninos não gostam das meninas? De onde vem a chuva que cai do céu? Quem foi que inventou o Papai Noel? Por que o céu é azul e não verde-limão? Será que as nuvens são como sabão? Por que meu nariz entope quando to gripada? Pra onde vai o xixi quando dou descarga? O que é uma espinha e o que é que ela faz? Iga! Por que aquela moça tá beijando o rapaz? Como nasce a neve e como os rios enchem? Se a Terra tá girando, por que a gente não sente? Por que o leão é o rei da floresta? Por que você tem uma dobra na testa? Por que ninguém me explica como o mundo foi feito? Ou por que da azar quebrar um espelho?
Dizem que criança nada entende, mas se nos explicam, a gente pode entender. Minha professora me ensinou, e agora eu sei que casa é com 's' e não com 'z'.

Estou feliz,

sábado, 17 de abril de 2010

Estou feliz, realmente feliz, com o rumo que tomou nossa conversa. Seria sexta-feira, não sei ao certo, mas era noite clara e a música que embalava o ambiente me corava a pele, como se eu deitasse sobre a grama em um dia ensolarado e pegasse um pouco de cor. Estava rosada. Agora, subitamente me falha a memória... Poderia ser Pedro ou Manuel, não sei. Senti, simplesmente, sua mão suave circundar minha cintura; seu lábio morno aquecer minha nuca e seu pé descalço aconchegar-se ao meu. Estive pensando por muito tempo. Tantos pensamentos se perderam diante da baderna que me vinha como vida. Alguns se misturavam com o arroz e o feijão durante o almoço. Meu maior pecado, durante toda a vida, foi destinar estes pensamentos a você. Foi dá-los de presente, mesmo sabendo que seriam esquecidos em uma gaveta qualquer. Estive, ontem, a conversar com Pedro - ou Manuel - sobre sua namoradinha. Pois sim, ele a tem, e ama. Enquanto me falava sobre a pobre infeliz, procurava acalentar meu calcanhar por debaixo da mesa. Meu ex amor, te condeno a viver no passado, quero esquecer que um dia nos fiz prometer que este caso estaria fadado a ser eterno. Já nem lembro se teu nome começa com M ou com P...

Meu estranho jeito de gostar... de você

sexta-feira, 16 de abril de 2010


Olha, eu tenho vontade de te escrever quase todos os dias. Poderia te mandar um email ou deixar completar uma das muitas ligações que me servem somente pra ouvir um pouco da tua voz. Mas as cartas, ah, as cartas são mais leves, mais poéticas e aconchegantes, também. Principalmente quando a encontramos, já envelhecidas, dentro de algum dos nossos baús de madeira, daqueles que usamos pra acomodar lembranças. Várias foram às vezes em que gastei meu ocioso tempo e minha caneta perfumada em um princípio de escrita. No entanto, foram as tentativas frustradas de encorajamento o que me fez desistir. Deixei-me acovardar, não quis sair da fadada zona de conforto que a solidão criara. O engraçado, porém, é que não sou assim. Talvez a timidez e as circunstâncias precárias tenham me calado por um tempo, no começo. Mas no decorrer, ao longo de tudo, seja breve ou não o percurso, eu sempre me solto, me precipito e me perco em falatório. Deixo fluir em palavras tudo o que se passa em minha mente. Facilmente eu iria te deixar a par dos meus sentimentos, das minhas intenções. Sempre fora assim. E eu estava certa de que seria sempre a menininha que escancarava o amor, que o rasgava em público e assustava a tantos, mas, principalmente, assustava e afugentava aquele que seria, certamente, o cara de sua vida. Então, você me apareceu. Lindo, formoso, cativante. E eu me deixei levar, me deixei crer que se tratava da criatura mais distinta de todo o mundo. Eu estaria amando você e, ainda assim, o perderia por não saber controlar meu entusiasmo. Terceiros me diziam que eu precisaria disfarçar, ocultar, acalmar. Fiz por medo de perdê-lo, mesmo achando que tudo seria mais fácil se houvesse clareza. Se eu conhecesse os teus reais sentimentos, limpos e frescos, como os meus - que eu não poderia demonstrar. Não me deixaram te amar como eu gostaria, como eu sabia que iria te agradar. Você não me deixou, não me deixa. Sinto que estamos deixando de ser, cada dia mais, o que éramos um para o outro: especiais. Estamos morrendo constantemente, e essa morte é o que me dói. E eu poderia te ligar agora, ou deixar-me concluir ao menos esta carta. Tanto seria dito, mas tanto! Veja só, o nosso amor não é pra amanhã, é pra hoje, feito café fresco que só serve se servido na hora. Aprende, a vida é hoje, a vida somos nós dois. Ainda quero você. Ainda quero que me toque nos cabelos, nos seios. Venha sussurrar carícias ao meu pé do ouvido, venha lamber-me e arrepiar-me os pêlos. Ainda sinto seu gosto na minha roupa. Faça-me esquecer teu rosto, meu nome, nosso cheiro. Não vou mais permitir que essas emoções se transformem em pó. Deixa-me falar, deixa a menininha mostrar que te ama. Benzinho, desistir de você seria desistir do meu padrão de qualidade de vida. Vida, essa vida, feito fita cor-de-rosa.

Meu Telhado Azul

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Quando dei por mim, já estava assim, perdida. A caixa aberta. Papelão. Alguns cadernos rabiscados. Caligrafia pobre, erros no meu já ruim português. E toda aquela distração... Algumas sandálias, entre elas, meu primeiro salto. Um pouco de maquiagem quebrada que, certamente, não irei usar na nova casa. Um novo lar. Uma tinta para o cabelo, aquela que nunca tive a coragem de usar. O segredo guardado a sete chaves embaixo da cama que nunca pude revelar. A embalagem do bombom que ele me deu. O cheiro doce do perfume que já usei. A boneca envelhecida que há muito esqueci. Meu pequeno mundo em uma caixa de papelão. Todas as lembranças, o que há de bom e também o que há de ruim. Recordações amontoadas, angustiadas, tentando se sobressair e ocupar um mínimo espaço dentro daquela caixinha antiga. A promessa calada. "Não mais responder o papai, não mais aborrecer a mamãe. Nada de pesca na escola, nada de doces antes do jantar. Nada de beijos treinados em frente ao espelho, nada de vinganças juradas. Nada de detestar a Vanessa, ou a Paula. Prometo não mais pensar no Rafa, também. Prometo passar no vestibular e entrar na academia. Prometo passar um mês completo na academia!" Todas aglomeradas, apertadinhas. E o primeiro beijo, tantas vezes recordado pré-sono... Mereceria esse sair do meu armário? Os fios de cabelo que guardei. A cartinha que recebi. O vestido que usei em minha festa de quinze anos! A página da revista que arranquei com o mais belo vestido, aquele que não usei. A tequila que me desceu rasgando. Ah, a primeira tequila. E agora choro. Vejo o quanto não passo de uma promessa. Um até logo, um até breve. Tudo aquilo que não disse ou que deixei de fazer. O sonho de ser uma estrela, de manter-se intacta, imune ao brilho das demais. Em meio a minha desordem, me vejo refletir naquela bagunça organizada. Vou engolindo a loucura, o orgulho, os bons livros que trago na estante empoeirada. Descabelada, alucinada, deixo a minha casa. A minha infância, repleta de dentes moles e fraldas frouxas. A minha adolescência, cheia de amores e desamores devidamente sofridos e degustados. As amizades que perdi, outras tantas que achei. E, quando necessário, toda a loucura sobrecarregada que joguei pro espaço e deixei rolar. To indo embora, embora eu vá sem trocar de roupa. Embora eu tenha medo dessa nova vida, dessa nova página... Então, fique por aqui, me veja sair, me faça companhia. Feche a porta as minhas costas. Conte até três e segure forte a minha mão. Mesmo que eu não conheça teu rosto, tua voz, mesmo sem saber se tua boca é amarga ou não... Eu to indo embora e preciso de alguém que segure minha mão.