sábado, 31 de julho de 2010

Começou quando eu o vi pela primeira vez, há muito tempo atrás. Sua pele era alva, quase pálida e cristalina; e eu só pensava o quão macia deveria ser. Refletia, rosada, à luz do sol. Tratava-se da criatura mais bela que eu já vira. Sem desistência, mesmo sendo consciente de que tal criatura ignorava minha presença; permaneci a admirá-la, contemplá-la, exaltá-la, dia após dia, em todas as minhas manhãs. Não teria mais volta, eu iria vivê-lo, mesmo que nos raros olhares que a mim direcionava. Mesmo que apenas na voz ouvida ao longe, no perfume deixado para trás ou nos sonhos intermináveis e tão reais. Começou, na verdade, quando ele me viu pela primeira vez. Numa quinta feira qualquer, de um julho qualquer, nossos corpos arderam como os raios de sol (...)

Um lar

sábado, 24 de julho de 2010

Uma cadeira é uma cadeira, e sempre será uma cadeira, mesmo que ninguém jamais se sente nela. Mas uma cadeira não é uma mesa e uma mesa não é uma sala, assim como uma sala não é uma casa e uma casa não é um lar. E o meu coração, como qualquer coração, não é um coração sem alguém para amar. Um lar não é um lar se você não tem alguém para encontrar. Alguém que esteja te esperando na sala de estar. Um quarto é um quarto, e sempre será um quarto, mesmo que ninguém se lembre de dormir por lá. Mas um quarto não é um ninho ou um cobertor, e um quarto nunca será um lar se não há amor. A sala ainda será uma sala, mesmo repleta de melancolia; o quarto ainda será um quarto e uma cadeira ainda será uma cadeira. Mas essa casa jamais será um lar se ainda estivermos separados e o meu coração permanecer quebrado. Seu rosto ainda aparece recostado na mobília quando chamo por seu nome, mas é apenas uma ilusão e as lágrimas estão me cansando. Eu não estou acostumada a viver sozinha, querido, "and a house is not a home." Uma casa não é um lar se você não estiver sentado na cadeira da sala de estar. Vou pegar o elevador, descer no décimo terceiro andar e encaixar a chave na porta que ainda será uma porta, mesmo que você já não esteja lá, ainda apaixonado por mim.

sábado, 17 de julho de 2010



Os dias estão bons e bonitos. E felizes também. A minha vida está boa e bonita, como você. Estamos em julho, e aquela chuva rala de ontem veio para florescer o caju. Os passos largos que dou pelo sol matinal representam minha pressa, a pressa de te ver, de encontrar suas bochechas rosadas sorrindo para mim. Depois de tanta espera, de tanto sonhar acordado nos meus dias solitários, tenho pressa. Sei que não vamos viver para sempre, mas por ontem, por hoje, pelo tempo que estivermos aqui, eu quero estar com você. Honestamente, pouco eu sei sobre gostar de alguém. Antes de você aparecer na minha sala de estar e pôr pra fora a solidão, eu não gostava de ninguém, não assim. Não como gosto do seu sorriso e da covinha discreta que nos cumprimenta durante as conversas intermináveis pela madrugada. Não como gosto do café meio amargo que só você sabe fazer. Não como gosto das cores e dos cortes das suas roupas. Não como gosto do mundo, dos automóveis, das crianças correndo descalças pela calçada esburacada. Não como gosto dos seus dentes, do canto desafinado do meu papagaio. Não como gosto do meu controle remoto. Até dos meus amigos, como pode, como eu gosto. Meu amor, com você, até da solidão e da saudade eu gosto mais. Eu gosto de você. Meu amor, com você. Eu gosto. Aconteceu. Os dias ficaram bons e bonitos, como eu. Quando a gente não esperava, sem o sino da igreja tocar. O nosso amor foi chegando de fininho, foi montando o seu ninho com as flores da estação. Todo dia é dia pra ficar com você. Todo dia é dia pra querer construir aqueles planos infinitos de nós dois. Sem que as rosas florescessem, sem que as luzes acendessem ou sem que o céu piscasse para mim, a casa foi ficando mais fresca e bonita, foi ficando iluminada com os passos dados por você. Simplesmente aconteceu nós dois. O mundo está bom e bonito, como par, como a gente. Solidão nunca mais.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Quando a primavera deixou de ser só flor e a noite deixou de ser melancólica, meu amor voltou. Com um quê de saudade, um gosto de vontade e um espírito evoluído de encher a boca d´água. Chamou-me sem mover os lábios. O balanço de seus braços me convidava a dançar, e a rodar, rodar, rodar para dentro de. Quis parar o tempo e todos os clichês do momento, só pra ser, pra ter e contemplar sua fisionomia máscula e arredia, suas mãos macias. Comprei morangos, morangos da estação. E eu espero que você saiba que eu ainda estou aqui, que eu já estou aqui, que eu sempre estive aqui e sempre estarei. E eu espero que você saiba que o teu cheiro está cada vez mais perto, mais poético; remetendo o verão passado, aquele em que nossa única preocupação era manter a pouca roupa, queimando levemente sob o sol matinal. Gravei nossa última conversa, não estou mais tão envergonhada, tenho me acostumado com o teu toque, tua tosse rouca quando toma café e com aquela camiseta azul turquesa. Azul da cor do mar.