Morador do céu

sábado, 8 de maio de 2010

Gostaria de conhecer a sua casa, lembro-me do convite. Tudo bem, já tem tempo, mas, ainda assim, me lembro, pois você olhou para mim e sorriu. Faça chuva, faça sol, seja dia ou seja dito: olá, lua. Eu continuo sendo a única, a única a saber onde você mora. E eu sei, também, que fica bem perto da grande lua no céu. E eu poderia perseguir a estrela cadente que você insiste em usar como armador, acompanhando o seu balanço entre todas as outras estrelas, feito rede em noite fresca. Certo dia eu descobri que esse balanço provoca as marés, as marés que trazem sal aos nossos pés. Não se assuste se eu aparecer, de repente, seja dia ou noite, faça chuva ou sol. Não se esqueça de mim, não se esqueça que está sobre mim todos os dias, todos os longos dias de nossas vidas. Você me conhece, sabe que se estou dormindo, estou sonhando com você. Daí de cima, de onde você está, eu pareço ainda mais pequenina e indefesa. E você nos observa, observa a todos nós. Foi bom o tempo que você passou aqui, comigo, mas, agora, ando meio fraca. Certifique-se de que tudo está bem. Veja se o meu amor está contente, mesmo sem mim. E se ele estiver dormindo, não o deixe sem sonhar. Verifique se ele sonha comigo. Não o deixe sem saber que em todas as noites os seus sonhos serão assim. Eu estou a olhar pra você agora, olhos fixos e encharcados contemplam o céu azul. Eu olho pra você todas as noites, todas as longas noites de nossas vidas. Vejo sua luz, posso até ver meu olhar perolado refletindo no seu. Sempre me dizem, os tolos, que você não vai aparecer. Mas não me importo e, ainda assim, é meu melhor amigo. Meu amigo mais próximo e querido, veja que ironia. E eu te prometo, prometo que nunca vou esquecer as noites e os dias que você me deu, e as outras noites e os outros dias que você me prometeu, pelo resto de nossas vidas. E mesmo que esteja dormindo, não vou deixá-lo sem saber que está sonhando, e que esse é o sonho que divido com você. Faça sol ou não. Um dia você me leva pra morar no céu?

Um pedacinho de você em mim

quinta-feira, 6 de maio de 2010



Eu sei, você vai embora amanhã no fim da tarde, tarde de um março azul. E sinto, aos poucos, meu coração se encher de tristeza e ir rachando, se desfigurando, até que esteja, enfim, partido. As lágrimas que escorrem por meu rosto acariciam minha pele e chegam a minha língua como suco de amora. Minhas mãos acenam, inconformadas com o adeus que não queriam dar. Estou só, só com minha dor preciosa. Minha tristeza é meiga, branda, como uma guloseima fora de hora. Meu coração, agora partido, é assim: um pedaço de você e um pedaço de mim. Faça dele amuleto, talismã, deixe que ele te proteja. E você estará seguro e aquecido até que possa voltar para o conforto dos meus braços. Sinto também a sua dor, vejo que está machucado. Seu coração partiu, como o meu, e um pedaço você me deu. Agora os nossos corações estão completos: um pedaço de mim e um pedaço de você. Nosso talismã e nossa tristeza doce, até que eu possa voltar para o conforto dos seus braços.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Nossa compatibilidade transcende qualquer união de corpos. Nosso elo ultrapassa os ancestrais. Esteja em mim que eu estou em você, e isso já me basta. Tendo o leve cuidado de manter nossa paz intocada. Pois é só assim que vejo, que nos vejo. Num piquenique em tarde fresca do mês de junho. Sua mão macia a acariciar minha palma suave. E uma vontade incontida de mostrar a todos - pássaros, flores, velhos e crianças - que ando a padecer de amores, e o culpado é você. Você que custa a aparecer. Ah, mas sei, entendo que não é fácil encontrar rapazes com aptidão a príncipes. Estou aqui, ainda, a esperar, quietinha, calada, com olhos brilhantes feito bolinhas de gude. E espero porque acredito, e porque acredito, eles, os príncipes, devem existir. E um deles, em especial, deve estar por aí, também esperando por mim. Eu desejo que você queira viver em uma cidadezinha da Europa, onde a gente possa andar de bicicleta por todos os lugares, rindo das ruas manchadas de bronze a nossa volta. Quero que componha músicas e saiba fazer torta de maçã. Venha aprender a dançar. Comigo. Quero alguém que sonhe como eu sonho, para que possamos dividir a vida assim, sonhando juntos. Somando um sonho ao outro e fazendo disso uma deliciosa bola de neve. Faça de conta que nosso conto de amor é mais bonito que qualquer outro, que remete histórias apaixonadas. Uma charmosa e aconchegante rua europeia espera por nós. Vou prender fitinhas amarelas nas traseiras de nossas bicicletas.

Todas as moças têm Amelie em sua essência, o que as tornam fracas e vulgares são os poucos Nino's que encontramos por aí.

Então, moço bonito, esteja pensando em mim por aí, só enquanto eu penso em você por aqui.

domingo, 2 de maio de 2010

Não quero ficar na tua vida como uma rosa desbotada, uma flor com cheiro ruim. Não quero uma história mal contada, um outro princípio após mais um fim. Me mantenha a par da sua vida, faça de conta que ainda imagina que o nosso amor é bem feliz. Eu sei bem que já não tenho tua presença todo o tempo, que teu sorriso não é pra mim. Se acabou, não foi ao acaso, nosso caso não tinha prazo, algo marcado com começo e fim. Eu te trago no meu bolso, em um cheiro, em um gosto, num toque no pescoço... Que um dia eu senti. Sei aonde você mora, se está em casa, sei a hora, se está fora, sinto dor. Apareça se quiser, sinta-se à vontade, tome um café. Ou whisky, se preferir. Teu sabor já não me apetece, teu suor já não me aquece e com tua falta eu sei lidar. Isso não quer dizer que já não te ame, pois, bem sabe, como qualquer homem, que uma mulher gosta até o fim. Não o fim de um romance, cheio de nuances, mas o fim de um existir. Ainda estou aqui, tenho até outro rapaz pra me divertir. Tua existência é precária, mas volta e meia se faz rara nos meus dias incomuns. Vou deixando de te amar, vou parando de cantar aquela música de nós dois. Vou lembrando aos pouquinhos, e saindo de fininho dessa história que escrevi.

Platônico

sábado, 1 de maio de 2010

Comprei um vestido azul, porque soube que é dessa cor que você gosta mais. Posso até morar em Londres, se assim preferir. Posso deixar o cabelo crescer. A verdade é que nem mesmo sei se é de azul que você realmente mais gosta. No entanto, espero que sim, pois, assim é nos meus sonhos. Nos sonhos que tenho com você. Naqueles em que você aparece e me convida a dançar. E, depois de uma ou duas doses, deitamos um sob o outro, sobre o outro, sempre com aconchego, sempre em sintonia. Cantamos uma poesia qualquer e conversamos sobre o desejo de viver da música que corre em nossa alma. Na alma que compartilhamos. Enquanto tontos e apaixonados, ínfima é qualquer agonia, qualquer desamor. Estamos vivendo na extensão da paixão. No extremo daquilo que faz um ser vivo feliz. Então, não demora. Creio que já passe da hora de você me visitar. De bater levemente a porta do meu quarto e conhecer meus lençóis. Não nos vejo a cerca de dois dias, não nos vejo de mãos dadas. Estou agonizando por saudade de você. Por saudade da tua voz e da tua barbicha. Pela falta do teu riso e do teu cabelo ondulado. Corre tua mão rala pelo meu corpo calejado e me beije um beijo apaixonado, como tenho sonhado há uma semana, desde que te conheci, desde que nos conheci. Juntos, entrelaçados, nas lembranças que criei do nosso futuro não tão distante.

É hora de crescer, é hora de filho ser pai.

Estava disposta a conversar com você, a compartilhar minhas idéias, meus pensamentos e, principalmente, transmitir toda a minha solidariedade a alguém que tanto amei. Mas não pude, não posso. As coisas correram, o inverno acabou sem que nos déssemos conta. Lembra de quando nos conhecemos? De como o mundo parecia pequeno para todas as nossas intenções. De como você tornou-se o único capaz de encaixar-se perfeitamente bem em mim. No meu corpo, na minha alma. E se o tempo, agora, continuar a passar? E eu ficar para depois? Como um sonho bom que logo chegou ao fim. Éramos mais que jovens, eu era criança, e, você, criança também. Só sabíamos chorar. Aprendíamos, aos poucos, a amar. Ainda trago seu sorriso na lembrança. Mas, agora, estamos em outra estação. Uma nova primavera. Eu não pertenço mais a sua intimidade, e esse momento é muito intimista, ou não? Venha aqui, venha deitar a cabeça no meu colo e deixe correr solto, livre, teu pranto, teu medo, tua dor e tua alegria. Prometo ouvir com atenção, te oferecer a mão e continuar a amar você. Pelo tempo que for, por toda uma vida. Por toda a minha vida, e mais um dia. Depois, te deixo ir. Te dou um beijo na testa, apenas. E não vou sofrer. Vou continuar a acompanhar tua felicidade, mas de longe, como uma velha amiga que não pode usufruir da tua vida. Vou aceitar que agora, de fato, ela é infinitamente mais importante que eu. Em todas as minhas memórias, você se faz presente. Oro por sua prosperidade e pelo anjinho que abordou sua história. Que ele te traga luz.