Te quis

sábado, 30 de maio de 2009

Quero amor, só quero amar. É que meu coração vagabundo anda com vontade de se dar. Dar-se, sabe-se lá para quem, sabe-se lá porquê. Só se sabe que quer viver. Um chamego desses que se começa por hoje e não se acaba por amanhã. Que sente aroma de querer misturado com hortelã. Tem-se vontade de gritar que a vida não deve ser assim, cheia de controvérsias e erros sem fim. Minha língua anda a dizer por aí que achas um absurdo ver tua boca próxima a minha e não a invadir. Teu corpo está a zombar de mim, jogas tanto charme para o meu, o convida a se perder nos fios teus. Cansei de ser só amigo teu, de ver que teus carinhos não são meus. Que queres que faça? Queres casa, comida, roupa lavada? Não venha me pedir muito, bem. Não sei se tenho o que precisas, mas tudo o que almejo, tu já tens. Não te quis de um jeito qualquer, não somente como um homem quer uma mulher. Te quis como à água que mata minha sede, o calor que aquece minha rede. Como o quadril perfeito que se encaixa ao meu, o perfume que embala os sonhos agora teus. Te quis e ainda quero, por isso, te espero. E não me canso de esperar, pois meu coração vagabundo há de se alegrar quando ver-te chegar.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Pertenço a uma família mediana com renda mediana. Tendo por hábito juntar meu rico dinheirinho com o intuito de satisfazer meus gastos fúteis e superficiais. Não sou o tipo de pessoa que mesquinha os vinte centavos de troco no ônibus, mesmo achando injusto não os receber com o argumento de o trocador não os possuir. “Terá que esperar um pouco, não os tenho agora.” Está bem certo que eu não o esperaria muito mais quando minha parada fosse solicitada. Assim eu fiz. Não guardei qualquer rancor do moço que me atendera, prefiro acreditar que ele teria me dado - o que me era de direito -, se mais alguém tivesse entrado no ônibus. Talvez sua consciência devesse pesar ao saber que estava tornando-se um profissional menos responsável por isso, bem, a minha pesaria. Convenhamos, minha mente não é tão cruel a ponto de desejar extorquir meus queridos vinte centavos de um provável pai de família que se desgasta dia após dia em um cubículo desconfortável e mal cheiroso. Por fim, creio que não me torno alguém mais rico ou mais pobre por conta de míseros vinte centavos. A outros tantos, é provável que valha bem mais. Não irei esquecer-me de anotar o acontecido em meu caderninho cor-de-rosa com inúmeras de minhas boas ações. Pretendo apresentá-lo aos céus quando for o momento certo.

Sonhei

sábado, 16 de maio de 2009

Não queria ir dormir, ainda estava cedo, havia muito mais de interessante a se fazer. Não queria acordar, ainda estava cedo, precisava descansar.


No ônibus, uma garota usando a farda de uma escola pública me observava com um ar de dúvida e condenação. Devia estar supondo e imaginando como seria minha vida, a de uma garota com a blusa um pouco mais limpa que a sua. Gostaria de poder explicá-la que não é bem assim, que não sou desprovida de dificuldades, como vi pelo seu olhar, que ela supunha. No mundo em que ela crê que vivo, uma garotinha não poderia voltar para casa de ônibus. Então, após minha resumida explicação, talvez ela me sorrisse um sorrisinho descrente e azedo, e se oferecesse para segurar meus livros. Eu poderia iniciar um diálogo, não somente para o tempo passar mais depressa, como para limpar a imagem ruim que ela tinha de mim. Eu poderia dizer-lhe que na noite anterior escutei diversas vezes “All My Loving”, imaginando-me com vestidinho de princesa em um baile acompanhada pelo mais belo par. E que adoro café com leite em pó e leite líquido com cereal de chocolate, como nos seriados da TV. E então, eu poderia dizer-lhe que adoraria acordar como acordo em todos os domingos. Ao contrário da maioria, eu adoro os domingos. É dia de Pânico, igreja e almoço comprado. Talvez ela também gostasse dos domingos e, então, nós teríamos algo em comum. E aí eu teria intimidade para confessar-lhe que não tenho amigo algum que more longe, mas que, ainda assim, sinto falta de muitos deles. Nesse momento, alguém iria descer do ônibus e eu me sentaria ao seu lado. Talvez eu comentasse que sinto saudade dos meus longos cabelos e tentasse mostrar-lhe com gestos o tamanho que ele possuía. Ela poderia dar risada e então me contaria um pouco mais sobre sua vida. Eu poderia dizer-lhe que ando assustada, com medo de me apaixonar por alguém que não se apaixonaria por mim. E então, eu lhe diria que me imagino deitada sob um pé de macieira, como aquelas que fazem sombra e sempre desenhamos ao lado de uma casinha quando somos pequenas. Ela poderia até me achar louca, mas duvido que o dissesse. Talvez eu acompanhasse uma canção que acabara de tocar na rádio e ela gostasse tanto da voz quanto eu. Talvez aí, soubéssemos de algo a mais em comum. Eu iria dizer-lhe, se ainda me restasse algum tempo, que gostava do tom de sua pele, bastante branca. Talvez gélida, mas não pude tocá-la para saber. Lembraria, então, de perguntar seu nome e gravá-lo em minha memória, como o de minha nova amiga. Talvez aí, ela até gostasse de mim. Mas eu não o fiz. Não lhe falei sobre a música do dia anterior nem do medo de viver um amor platônico. Iria descer na próxima parada e ela, certamente, continuaria me achando uma garotinha de contos de fadas.

Né? :)

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Acordei ainda bem cedo, com um certo esforço, é verdade. O cabelo, assim como o material escolar, foi arrumado de forma desordenada e despreocupada. O sono, a preguiça e o friozinho matinal foram facilmente esquecidos ao primeiro abraço caloroso de uma amiga. Algumas aulas tediosas, risadas incontáveis. Um ônibus lotado, cheio de personagens característicos, peculiares em cada detalhe, com uma história sofrida ou feliz narrada em seus olhares. O tom alaranjado do meu quarto embalando os sonhos de uma tarde bem dormida. O lençol acaricia minha pele, anuncia o leve despertar. Café com leite, alguns afazeres, engano-me crendo que o dia se passou bem. A conversa flui naturalmente, como uma flor a desabrochar sem pressa alguma. Não nego meu desejo de agradar, no entanto, pouco preciso me esforçar. E ele certamente sorri um sorriso provocado por algo que intencionalmente o disse para fazê-lo sorrir. E agora sim, o dia correu bem para mim. Uma nova ocupação, talvez um livro, ou recorro a televisão. Está presente a cada página, a cada interpretação. Talvez te encontre até dentro de meus sonhos, talvez não. Mesmo sem saber, decido mais cedo me recolher.

E o teu amor, quanto vale?

domingo, 10 de maio de 2009


Já tentou avaliar seu próprio amor? Dedico um pouco a meus amigos, familiares e agregados. Um outro tanto a meus afazeres, gostos e prazeres. Ao namorado, dedica-se o amor do tamanho da paixão. Aos melhores amigos, dedica-se o amor do tamanho ao de um irmão. A escrita, o amor da satisfação. Mas há alguém que não se encaixa em nenhuma descrição. Há um alguém que te esperou e te amou antes mesmo de conhecê-lo. Há um alguém que te cuidou e quis bem desde o começo. Há um alguém que acompanhou teu crescimento, teus erros e acertos. Há um alguém que por ti esquece de si mesmo. Há um alguém que acordou, limpou, ajudou, sem arrependimentos. Há um alguém que te viu andar, cair e chorar. Há um alguém que ainda assim esteve lá, te incentivando a continuar. Há um alguém que te auxiliou com o BABÁ, que sofreu ao te deixar com a babá. Há um alguém que te ensinou boa parte do que sabes e que formulou uma parte do teu caráter. Há um alguém que te ouve e te entende mesmo quando não deve. Há um alguém que por ti engole muito sapo. Há um alguém que te conhece melhor do que você próprio, e do que a si próprio. Há um alguém que faz comida, passa roupa, dá beijo, só pra te agradar. Há um alguém que briga, que chora, mas pelo bem. Há um alguém que não ama de amar assim, mais ninguém. Há um alguém que coloca feitiço em quem te querer mal. Há alguém que abraça o melhor dos abraços. Há um alguém que por ti desce do salto. Há um algum que de valor é incalculável. Há um alguém que mesmo de mal, é do bem. Há um alguém que tu procuras sempre que te faltas afeto e mimo. Há um alguém que sempre te socorre nas horas ruins. Há um alguém que não se encontra fácil assim. Há um alguém como poucos, que o amor vale mais que ouro. Há um alguém que não se deixa abalar, mas se te abalam, abala-se demais. Há um alguém que chamam mãe, anjo, amiga. Há um alguém que prefiro chamar amor. Pois insatisfeita com as definições que encontrei desse sentimento por aí, decidi dar a ele minha própria feição. Se pudesses personificá-lo, terias o teu rosto. És o que há de melhor em mim, e o que há de melhor em mim, devo a ti. Amor imenso, só se é recompensado, se em dobro destinado.

A história de mais um cara comum

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Verão, amor bobo, inconsequente. Ele tinha 24 e ela 16. O coração disparado, balançando em corda bamba. Alguns anos de convivência, harmonia e entusiasmo. Casaram-se no dia 6 de maio, ao som de “Roberto Carlos”. A primeira visita da cegonha não tardou, e decidiram mudar-se para uma casa mais ampla, bem decorada com peças caras. O menino iria se chamar Gabriel – enviado de Deus. Desde criança mostrou temperamento forte, decisivo, um ar autoritário de quem sabe o que quer. Pouco disciplinado, era extremamente mimado e irresponsável. Os pais viajavam no fim de semana, a casa tornava-se uma desordem; amigos embriagados, havia mais álcool que churrasco. Na escola, um comportamento irregular, desrespeitava professores para impressionar. Depois de um tempo, tédio tomou conta de si, pensou em sair de casa, ir mundo a fora curtir. Os pais foram contra, alegaram ingratidão, rancor, despeito. O menino, revoltado, trancou-se no quarto e pôs-se a refletir. Daria um jeito de viver uma nova realidade, conseguiria quebrar os laços que o mantinham ali. A festa do Manteiga seria na sexta, uma oportunidade para se divertir. As gatas estariam lá, haveria biritinha pra descontrair. Umas idéias na cabeça, sabia como mentir. “Pô pai, tem simulado amanhã, preciso de ajuda aí. A Ritinha é gente boa, vai repassar as paradas, ajuda a força aí”. O pai finge que não vê, a mãe precisa se tratar, tantas minhocas na cabeça, difícil acreditar. A música era pesada, havia fumaça no ar, dançavam sem se preocupar. Algumas subiam a saia, desciam do salto, queriam experimentar. Um cara, tal de Piolho, oferecia o que Gabriel ainda não conhecia. “Prova aí, cara, pra você faço por uma mixaria”. As cores transbordavam sensações, queria ficar longe do chão. Parecia não cansar, nada de medo, desgosto, desespero. Nunca se sentira tão feliz. A mãe não percebia, mas o pai estranhava sua boa educação. Tentou se aproximar, averiguar, queria ajudar. O enviado de Deus jurou arrependimento, disse que agora iria se redimir. Iria se reajustar, claro. Aprendeu a fumar, por influência dos amigos, começou a roubar. A família endinheirada não poderia suspeitar, por seus próprios meios iria se arranjar. Teria que se virar, comprar o pó, o preço estava no gogó. Piolho agora estava preso, na época da festa já era suspeito. A polícia fechou o circo, levou o garoto para um abrigo. Gabriel soube que a droga ainda rolava por lá, o cara nunca iria se curar. Provou um pouco mais, abusou demais. O surto foi nervoso, pobre Piolho, seu final feliz foi pro esgoto. Gabriel não se importava, nada mais parecia o interessar. Vivia ligadão, pulsando forte o coração. Em um desses fins de semana, em que os pais estavam fora, pegou o carro escondido, entrou na contra mão. Lembra-se de pouca coisa, sofreu uma contusão. O médico diagnosticou o uso das drogas, o pai fez a ligação. A mãe só conseguia chorar, pensava no que os vizinhos iriam falar. Contra sua vontade, foi levado a reabilitação. Passaram-se três anos de loucura e solidão. Queria voltar a estudar, poder trabalhar, reconstituir a própria vida. Agora não possuía a beleza de antes, estava magro, pálido, desgastado. Sentia na pele o preconceito e a repulsão, tratado pior que um cão. A mãe o desprezava, sonhara um futuro diferente para o tal enviado de Deus. O pai estava ali, lhe estendia a mão, o filho almejava sua aprovação. Mudou-se de cidade, era o melhor para recomeçar. Soube de seus ex-parceiros. Alguns estavam presos, outros sob lápides, outros tantos ainda resistiam ao subúrbio brasileiro. Gabriel retornou a escola, para conseguir respeito, iria se respeitar. Conheceu Joana, nem sabia mais o que fazer ou pensar. Sem contar as experiências vividas, agora, queriam o mesmo para as suas vidas. Como uma forma de se ajudar, decidiu o seu destino ao dela juntar. Estava apaixonado, as coisas iriam mesmo melhorar. Passaram juntos no vestibular, queriam constituir família, pensavam em casar. Ela sonhava em ter filhos, ele não os queria. Lembrava-se bem de sua adolescência, de sua insolência, da falta de decência. Não queria por mais um ser a sofrer por aí, vivendo sem controle de si. A discussão virou uma confusão, ele, enfim, percebeu que não merecia seu coração. Ela iria achar um cara mais ajuizado, sem manchas no passado. Resolveu se mandar, seria um lobo solitário, durante a noite se punha a uivar. Pedia ajuda as estrelas, queria uma força, uma certeza. Torrou o salário com cerveja e orgia, voltou a desvincular a própria vida. As drogas o chamavam de volta, seduziam. Dormia nas ruas, lutava por comida. Para quem estava destinado a uma vida de gala e brilhantina, se auto-destruía. Voltou a sua cidade, com o pouco dinheiro que ainda possuía. Sua mãe o recebeu com desdém, culpava-o pela morte do marido. Ataque cardíaco, que o desgosto produzira. Nunca sofrera tanto na vida, nem em seus momentos de depressão. Seu pai havia ido para o céu, morreu sem lhe fornecer o perdão. Queria juntar-se a ele, mesmo consciente de que iriam para lugares diferentes. De qualquer forma, o inferno não poderia ser muito diferente do que vivia. Enquanto caminhava pela multidão, tentando esconder-se na escuridão, ouviu um sermão. Alguém contava casos de amor e gratidão, felicidade e satisfação. Dizia que o seu Pai era o único que poderia fornecer a salvação. Seu peito foi invadido por uma estranha ilusão, a de que poderia sim, ter realização. Imaginou como seria a vida, quis ter de volta Joana, sua boa companhia. As dores todas, já conhecia, queria experimentar a alegria. Com algumas contribuições, pôde pagar a condução. Encontrou Joana ainda sofrida por seu abandono, lhe ofereceu seu obro, abriu o coração. Contou tudo o que havia vivido, sentido e sofrido, mas que queria mudar, queria dar a volta por cima. O salário era pequeno, a casa menor ainda. Mas naquele lar, reinava uma estranha harmonia. Gabriel – o enviado de Deus, conheceu o poder do que seu nome remetia. A cegonha não tardou a ir visitar aquela moradia, e a história enfim se repetia. O final, ninguém conhecia.

terça-feira, 5 de maio de 2009


Você já se sentiu um pouco mais apagado que as outras pessoas? Ou sentiu que não pertencia ao espaço que estava a ocupar? Ou até mesmo que os outros te olhavam com um olhar meio torto? Bem, eu já. Talvez seja a chuva, acompanhada de uma cor cinza capaz de ofuscar qualquer tom de pele. Os raios de sol realçam a beleza e, nessa época do ano, deixam saudade. Talvez seja a sua primeira frieira, bem localizada no pé esquerdo, que a vizinha certamente não tem. Talvez seja o recente namoro da sua melhor amiga ou a possibilidade remota do seu futuro recente namoro. As razões divergem, assim como as sensações. No entanto, nesse momento você poderia ser um ovo prestes a ser frito. Uma futura galinha degolada, uma criança esfomeada, um saco plástico, uma luva de borracha. Você poderia estar preso no trânsito, levando um tombo, terminando um relacionamento. Seu namorado poderia estar te traindo, talvez você até estivesse esperando um bebê. Você ainda pode emagrecer, amadurecer, crescer alguns centímetros. Há quem não tenha aonde dormir, o que vestir, a quem não tenha nem mesmo um conselho para ouvir. Melhor um copo ao meio que um vazio.

Meu lado bom

domingo, 3 de maio de 2009


Você é meu, e só. Quando se sente só, acocho nossos nós. Não nos fale em dor, só conhecemos o amor. Tem um brilho todo especial, maior e mais belo que qualquer cristal. Você é o que há de melhor em mim. Tem o dom de me fazer sorrir, faz florescer sonhos e rosas em mim. Quando me sinto só, acocha nossos nós. Eu te peço pra ficar, te peço para me acompanhar. Não posso evitar, é como uma eterna canção de ninar. Pode dizer que sou louca, sou. Arrasta-me de céu a céu, apresenta-me as estrelas que antes só via em teu olhar. Há um mundo esperando por nós, nunca seremos sós. E nada poderia tirar você de mim. É que por você faço tudo, danço tango, aprendo alemão. É que esperei tanto por você, que fico triste só de pensar em não te ter. Te entrelacei em meus braços, alinhei a tua vida na minha. É que sem você meu dia-a-dia seria uma eterna monotonia. Segurei a tua mão, solto nunca não. Têm vezes que a gente não se entende, o que é bem normal. Depois peço desculpas, entrego o jornal, ganho beijo e passo mal. Tem mel, deve ser. Joguei doce, não deu, cadê o coração? Agora é teu.

O mundo vai acabar, e ela só quer dançar!

sábado, 2 de maio de 2009


De quantas formas você pode ser? Com quantos anos você aprendeu o que hoje eu ainda não sei? O que diria se soubesses que estou interessada em você? Será que eu sou assim, tão fútil e descontrolada? Andei com pés tortos, os laços se romperam sem ninguém perceber. Estou cega, não vejo nada além de você. Faço-te promessas que não poderia realizar. Dedico meu corpo, minha mente, rosas e músicas pra você. Você, você, só você. Será que eu sou assim, tão boba e arrogante? Tomo tequila, danço pra você. O que quiser, estou disposta a fazer. Acendo um cigarro, quero impressionar. Você sorri, zomba de mim. E eu achando que estava agradando. Parabéns, caras feias pra você. Você, você, só você. Três dias trancada no banheiro, fazendo o que ninguém poderia saber. Unhas roídas, comprimidas, cabelos tingidos. Queria poder te ver no escuro, divertir você. Será que eu sou assim, tão inconsequente e depravada? Mamãe diz que de boba só tenho a cara. Aparece-me com outra de mãos dadas, parabéns, caras feias pra você. Sigo conselhos de amigos invisíveis, não ligo pro que já fiz. Não há mais esperança, tiro a roupa pra você. Você, você, só você. Quanto você ganha por mês? Com quantas dorme em um mês? E por mim, qual é teu sentimento? Será que eu sou assim, tão efusiva e inconveniente? Eu vou pro mundo da lua, não pretendo voltar, vou me adaptar. Caí no vazio e não há nada que possa fazer. Ponho um batom vermelho, sujando os dentes sem querer. E não há nada que eu queira dizer, minha voz falha quando chego perto de você. Querendo sempre mais, buscando um pouco mais, falhando cada vez mais. E você que já esteve no inferno, me diga como deve ser, o que devo fazer quando for minha vez. Obrigada pela atenção, parabéns, caras feias pra você. O mundo não gira ao seu redor, vou lhe dizer: merda vale mais que você. Eu só quero entender como posso não ser interessante pra você, sendo uma pessoa bem melhor. Vou lhe dizer: és tão sem graça, não merece nada do que tens. Parabéns, mais caras feias pra você. Procurando independência, desrespeitando avós. Será que eu sou assim, tão desprezível e descartável? Resumo-me a um nome que você não faz questão de dizer. Os laços se romperam sem ninguém perceber. Fiz-te juras e mais juras, você não quis. Teve meu corpo em exposição, os amigos cobiçavam, queriam passar a mão. Manteve-me fora de alcance, não por amor, mas por ego. Tua vaidade congelou teus sentimentos, fugiu de mim, saiu de si, foi embora e nem disse adeus. Se me pedisse para parar de estudar, para fugir de casa, para me entregar por inteiro a você, eu faria. E agora, eu não sou nada, não tenho nada. Parabéns, caras feias pra você. Você, você, só você. Aprendi que para sempre é só por enquanto. Vendi minha alma, corro contra o tempo, choro compulsivamente. Olhos atentos a tudo, tentando ver você em mim. Deixou-me pedaços teus, a parte podre de mim, a que mais exponho. Levei na bolsa umas histórias pra contar, quebrei garrafas, esqueci meu nome. Com quantas caras você vive? Quantas risadas forçadas distribui por dia? Quantas brigas compra por noite? A vida é minha, você que vá embora. Será que eu sou mesmo assim, tão complicada e depressiva? Plantou discórdia em meu coração. Parabéns, caras feias pra você. Você, você, só você. E agora, tudo o que faço é errado e obscuro, vários beijos em uma noite, só pra não cair na rotina. Idade adulterada, dinheiro suspeito, intimidades nada íntimas. Um cara estranho, uma menina problemática, orgulho e preconceito. Mal completou 16, o que pode saber? Só sabe, fala, pensa e vive você.

Todo mundo espera alguma coisa de um sábado à noite!

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Dias em que existe uma predisposição para se divertir. Planeja-se a melhor forma de se vestir, de arrumar o cabelo, a melhor maneira de distribuir sorrisos e chamar atenção. Tente ser agradável com todos, não seja uma pessoa negativa, descontraia, garota! Afinal, o que seria de mim sem vossa aprovação, sem teus encantos e influências? Não me basta o afeto dos íntimos, é preciso os olhares e apelos de todos. E apelam por todos os meus dotes: meu corpo, minha beleza, minha voz; tudo em mim é um convite para você. A forma como ando, me expresso, como te desprezo desejando ardentemente teus olhares e tuas atenções. Olhe para mim, repare em todos os meus traços, faça minhas vontades, me queira. Dia após dia, vou buscando melhorar, não por mim, mas por você. Tentando me adaptar a padrões, tentando agradar quem nem mesmo me convém. Medindo as palavras, diminuindo a roupa, jogando os dados. Contrabalançando malícia e inocência, amor e dor, fé e desespero. Suprindo necessidades e carências com futilidades e prazeres momentâneos. Abusando das amizades, das maquiagens, das bebidas, das comidas. Adotando posturas incomuns, rindo na cara do perigo.

Estávamos lá: as pessoas certas, o lugar certo, o texto persuasivo na ponta da língua. A música era alta e vulgar, a letra confusa. As roupas curtas; meninas expostas, como em vitrinas, esperando o melhor partido – melhor carro, maior grupo de amigos; no copo, a bebida mais cara. Por fora, apenas mais uma. Por dentro, vomitando.

Eu esperei por você, eu torço para que você venha. Eu chamo por ti todos os dias. Desde aquela noite em que você brilhou um pouco mais e, na multidão, foi quem prendeu minha atenção. Não que eu tenha sentido isso com tamanha intensidade, mas no dia seguinte
foi de você que lembrei. Desde então, venho camuflando angústias, fingindo interesses, forçando sorrisos, escondendo o rosto, omitindo a verdade, alimentando falsas esperanças, vivendo a vida de sempre. Caso você venha, estenda a mão e me convide a sorrir um sorriso verdadeiro, talvez aí eu volte a saber e viver um pouco mais de mim.