Não estás aqui

sexta-feira, 27 de março de 2009

E como num todo, sou só metade se não estás aqui. Se não estás aqui, os pássaros se esquecem de cantar e até as flores de encantar. Meu mundo mesmo, só volta a girar se estás aqui. Mas não estás aqui, e eu me ponho a vagar; um violão, uma pinga. Será certo fazer o coração de um poeta se partir? Se não estás aqui sou só tristeza, carranco. O mar fica com pena de mim. Ah, se estivesses aqui, eu me esquecia do calçado, corria pelo asfalto, ignorando buchichos e afins. Se não estás aqui, ponho-me daltônico; perco as cores, perco o sono, perco o rumo, perco o sorrir. Se não estás aqui, não sei o que é alegria, já que um dia prometeste que a tua seria sempre minha; e a minha em si, somente a ti pertenceria. Mas tu não estás aqui, não foi fiel a tua promessa, muito menos a mim. E eu, como bobo que sou, gabava-me de não ser bobo por ninguém; querida, sou bobo, muito bobo por ti. Se não estás aqui, goiaba passa a ter gosto de banana; canto para ninguém ouvir; as nuvens deixam de perfumar os sonhos, afinal, se não estás aqui, só há pesadelos em mim. Mainha, se estivesses aqui, aquela minha vizinha, D. Marcinha - mulher cheia de prosa, de muita conversa -, deixaria de me perseguir. Dizes que sou malandro, poeta, boêmio, que possuo o dom de persuadir. E que, então, toda cocota e maria brejeira vêm logo atrás de mim. Ô mainha, se estivesses aqui, eu diria que só tenho olhos para ti, e que há de ser sempre assim. Será mesmo que não vês que sou louco por ti? Vou me cortar com uma faca de cozinha; abacate, pão de mel, céu, bossa nova, feirinha. Seria lindo de se ver, tuas curvas fazendo charme, refletidas nos mares da Bahia. Se estivesses aqui, não te deixarias partir; te poria em tronco, corrente, açoite. Te obrigaria a ser eternamente, neguinha, eternamente, sempre minha. Mas não estás aqui... Mas não estás aqui... Mas não estás aqui...

0 comentários: