Eduardo, pequeno Edu

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O escuro estava reinando naquela noite de lua cheia que tencionava ser clara como um foco de luz. Eduardo evitava falar qualquer coisa, por mais esforço que isso lhe custasse. Todos os ouvidos pareciam estar atentos ao seu discurso infeliz. Seu amor por Júlia sempre fora muito mais bonito nas idéias do que nos atos, sempre fora mais feliz na utopia do que na realidade. Ela pertencia ao seu castelo imaginário. E, embora estivesse hoje com seus vinte anos, ainda refugiava-se na envelhecida casa da árvore construída outrora por seu pai. Eduardo ia para lá sempre que o dia teimava em decepcioná-lo e só quando ele ia embora é que saía. Não havia janela, mas havia uma árvore. A árvore cortava o chão torto e o teto destroçado que cheiravam a madeira velha e mofada. Ela era gorda, gorda de folhas verdes e algumas amarelas. Quase quinze anos passara-se desde a sua construção, mas a cumplicidade entre amador e coisa amada permanecia inalterável. A pequena casa iria guardar suas confidências e calar seu choro salgado. Estava acostumada ao menino esquisito que tinha medo de ir à escola sem Snop - seu bichinho de estimação -, ou que nunca aprendera a jogar futebol. A família sabia que a casa azul com listras brancas acima da pequena árvore próxima a piscina, resumira-se ao mundo de Edu. Era o seu mundo, não poderia ser de mais ninguém. Até que, numa tarde em que o sol não satisfeito com o céu, insistira em cortar os galhos de sua amiga e pintá-los de dourado, Edu levou a pequena Júlia Maria para conhecer o mundo de um menino de onze anos. Foi a primeira vez que a pediu em namoro.

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