Conheci um anjo

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Ainda pequenina, aprendi que todos temos um anjo da guarda. Ensinaram-me que são criaturas graciosas que transbordam bondade e encanto. Disseram-me que possuem o dom de pacificar um ambiente e promover o amor. Imaginei que em um lindo dia de verão me entrelaçaria em suas asas de plumas brancas e levaria-me para conhecer o céu. Procurei por meu anjo em todos os lugares; tentei decifrar cada sorriso, cada olhar. Cada forma de mover as mãos, delicadezas ao falar e andar. Nunca os vi, nenhum deles. Ou melhor, não os via. Senti o aroma da mocidade, a sutil diferença entre ser uma menina e ser uma mocinha. Apaixonei-me pela primeira vez, sofri pela dependência daquela companhia, alavanquei sonhos que facilmente chegaram ao fim. Apaixonei-me novamente, e outras tantas vezes. Por sorvete de menta com chocolate, pelo último espaço vago em um ônibus lotado, pelos livros de contos mofados da biblioteca. O sorvete, dividi com um cachorrinho de rua que com o olhar sorria para mim. À pequena senhora suada e mal vestida que com carinho segurou meus livros na locomoção lotada, retribui com toda amabilidade que possuo. O livro, escrito com tanto afinco por um bobo sonhador como eu, robou-me horas e horas de sono, mas provocou-me o dobro dos sonhos. Percebi, então, que em cada um de meus momentos, encontrava-se um pouco de graça e afeto. Somei os beijos aos abraços, os aconchegos aos afagos, as noites aos dias, as tristezas as alegrias. Entendi, enfim, que grande sorte possuía. Não satisfeito em ser apenas um, dedicou uma virtude a cada um de meus amores. Encontrei em cada nova possibilidade de sorrir, outro pedacinho de mim. Conheci meu anjo em cada um de meus amigos.
Era fim de tarde, o sol começa seu show ao se despedir. Um pouco distante, uma pequena sorria para mim. Um riso poético, acolhedor, acompanhado pelo canto do colibri. Naquele momento, soube que havia um anjo ali.

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