quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Está tudo tão quieto que chega a assustar. Minha garganta está seca. Talvez pelo copo de água que ainda me falta tomar após o despertar, ou pelas palavras que se esquivaram durante a conversa de ontem à tarde. Está tudo tão quieto. Mal posso ouvir os sons ruidosos que vêm da rua deserta. As flores estão cantando a primavera, enquanto o inverno canta e encanta e entrelaça-se, cruel, em meu coração. Está tudo tão quieto. As nuvens estão ausentes, descrentes, quase se diluindo a um mero resquício de fumaça. Sem encanto, contentamento, uma fumaça qualquer - como as que saem das fábricas ou dos canos sujos de carros novos. Está tudo tão quieto. Minha memória está vaga, falha, já não diferencia o que aconteceu do que está por vir. Hoje, assumi em público a minha paixão. As luzes que ontem se acenderam na orla, não se acenderam por nós dois. Não foi por nós dois que aquela música ficou para depois. O mundo não precisa de você para girar nem as flores para desabrochar. O sol não precisa de você para brilhar nem o trânsito para infernizar. Todas as coisas estão ai, cada uma em seu devido lugar. A folha da bananeira não precisa de você, a sombra da macieira, também não. Um prédio de vinte e três andares, um maço de cigarros ou aquele livro de capa dura, não precisam de você. Os meus cabelos e os meus olhos, e a minha boca e a minha pele, o meu seio e o meu colo, o meu relógio e o meu café, e até a minha cama não precisa de você. Hoje, assumi em público a minha paixão. Está tudo tão quieto. E eu aqui, tentando me convencer de que não preciso de você.

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